quarta-feira, 14 de novembro de 2018


COMPRIMIDOS

Hermógenes saiu de casa naquele tarde intranquilo, estando seu cérebro em chamas. Repetia para si: “hoje eu mato alguém, hoje eu mato alguém. ” Deixou o automóvel na garagem e seguiu em direção à cidade. Na cabeça usava um boné branco e na mão direita um revólver calibre 38, carregado com cinco projéteis. No caminho cumprimentou bodes e galinhas. Duas centenas de metros antes de chegar à cidade suas pernas travaram; sentou-se numa pedra saliente e ficou por alguns minutos pensativo, até mesmo sem cuspir e piscar. Então deu um grito pavoroso que acordou até mesmo os japoneses que já dormiam, semicerrou os olhos e atirou na própria cabeça. Em casa sua mulher sentiu o coração palpitar quando viu os comprimidos do marido doente jogados no lixo.


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