A atriz Fernanda Montenegro é uma figura luminosa dos palcos e das telas nacionais. Seu talento dramático, voz inconfundível e seriedade profissional se sobrepõem ao arcaísmo das posições políticas a que adere. Seu alinhamento é conhecido. Sempre votou em Lula, com quem diz se haver decepcionado desde o abraço que o uniu a Paulo Maluf durante a campanha eleitoral de Haddad à prefeitura paulistana (entrevista à Veja, em abril deste ano).
Ninguém deixa de gostar e de respeitar Fernanda Montenegro por suas posições políticas. Ela está acima disso. Mas a frase em epígrafe precisa ser exibida pelo que é: espécie de chave de leitura dos meandros através dos quais, para os intelectuais orgânicos da esquerda, a realidade incômoda sai qual fumaça pela chaminé dos fatos e volta a ser nuvem, lá no alto, no plano da utopia.
Frei Betto é mestre nisso. Para Fernanda, se a esquerda, depois de três décadas de estragos causados ao país e à política continental, seja no governo, seja na oposição, está no epicentro, também, do tsunami moral que varre a nação, então se virou do avesso.
Ora, tudo que nessa esquerda havia de ativo e atuante exerceu poder e influência, na oposição e no governo, durante três décadas. Ditou regras sob a lona preta dos acampamentos do MST e sob os rutilantes lustres dos gabinetes; no mais modesto sindicato e nos "campeões nacionais" como JBS e Odebrecht; na pastoral social da favela e nas manifestações da CNBB; na salinha de aula da vila e nas enfatuadas cátedras do mundo acadêmico; no jornalzinho de bairro e em presunçosas redações de retumbantes veículos. Mas, para Fernanda, se deu tudo errado, então a esquerda "virou direita". Não importa se lá vão os pés pelas mãos porque o mundo gira, a fila anda e a nuvem da utopia precisa estar sempre lá em cima.
* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
-
“Eu também só uso os famosos produtos de beleza da Helena Frankenstein. ” (Assombração)
-
“Vó, a senhora já ouviu falar em algoritmo?” “Aldo Ritmo? Tive um vizinho que se chamado Aldo, mas o sobrenome era outro.”
-
BABY LAMPADA Coisa própria da juventude; o afobamento, o medo do futuro, não ter o apoio da família; tudo isso faz do ser inexperiente ...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.