Diz o artigo 2º da Constituição da República Islâmica do Irã:
1. Há um só Deus que por direito é soberano e legislador, e o homem deve submeter-se a seu mando.
2. A revelação divina tem um papel a desempenhar na promulgação das leis.
3. A ressurreição desempenha um papel essencial no processo de desenvolvimento do homem em relação a Deus.
4. A justiça de Deus é inerente à sua criação e sua lei.
5. O imamato proverá a liderança e desempenhará um papel fundamental no progresso da revolução islâmica.
6. O homem é dotado de nobreza e elevada dignidade; sua liberdade acarreta responsabilidade perante Deus.
Leio nos jornais que o arcebispo de Recife e Olinda, dom José Cardoso Sobrinho, anunciou ontem que a Igreja vai entrar com uma ação para tentar evitar que a Prefeitura de Recife distribua a pílula do dia seguinte na cidade durante o Carnaval deste ano.
Para Dom José – continua a notícia - nem mesmo a violência sexual justifica o uso da pílula do dia seguinte. "A mulher que sofreu abuso sexual e engravidou é vítima de uma grande injustiça, mas não pode abortar. A Igreja condena o abuso sexual, mas não pode um crime justificar outro crime. É imoral. A Igreja não aceita isso. Nenhum ser humano tem o direito de suprimir a vida de um inocente. É pecado grave", disse o arcebispo, para quem o medicamento tem efeitos abortivos.
Bom, se é pecado, isto é problema dos crentes. Pecado só existe para quem crê em pecado. Mas o melhor vem agora. Segundo o purpurado, os padres das cem paróquias ligadas à arquidiocese em 19 municípios estão sendo orientados a defender essa posição em seus sermões. "Não temos força para impor alguma coisa ao governo. A gente pode pregar, tentar persuadir, dizer as nossas convicções e, sobretudo, que trata-se de uma lei de Deus".
Não estou vendo muita diferença entre a postura de Dom José e a do aiatolá Khomeini, que em 1979 impôs ao Irã uma constituição baseada na sharia, segundo a concepção dos xiitas imamitas. Ora, que tem a lei de Deus a ver com um Estado laico? Pretenderá Sua Eminência impor ao Brasil a sharia? Instaurar no país uma república teocrática? Essa história de Deus é para quem nele crê.
Quando reclamo desta mania dos católicos de pretender legislar para o universo todo, não falta quem me chame de intolerante. Se os católicos acham que aborto é crime, que não abortem, ora bolas. Os defensores do aborto falam em descriminalizar o aborto no país. Santa ingenuidade! O aborto está há muito descriminalizado.
O Ministério da Saúde considera que um milhão de abortos ilegais sejam feitos anualmente no Brasil, apesar da proibição no Código Penal e da forte oposição da Igreja. Ora, se um milhão de abortos são feitos anualmente em um país, é porque a prática já faz parte dos usos e costumes nacionais.
Os Testemunhas de Jeová, por exemplo, são contra as transfusões sanguíneas. É uma atitude insana que pode levá-los à morte. Mas pelo menos nunca pretenderam impor esta proibição à sociedade. Se preferem morrer por falta de transfusão, que tenham boa viagem.
Já propus, em crônicas passadas, que os católicos – e só os católicos – fossem punidos com todo o rigor da lei quando praticassem aborto. Não faltou quem se escandalizasse: “horror, leis especiais para determinados grupos”. Ora, o Brasil desde há muito tem leis especiais para determinados cidadãos. Índio pode matar, estuprar, fazer reféns... e tudo bem. Os sem-terra podem invadir fazendas, próprios da União, destruir laboratórios científicos e ainda têm a perspectiva de contar com aposentadoria por tais serviços. Negro vale por dois brancos nos vestibulares.
Por que não uma legislação especial para católicos? Se acham que aborto é crime, prisão firme para o católico que aborte. Que estes misóginos vulturinos deixem em paz as pessoas que querem apenas ter os mesmos direitos dos cidadãos dos países civilizados do Ocidente.
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