domingo, 25 de junho de 2017

H.L. MENCKENN- A VIDA DO HOMEM

A velha noção antropomórfica de que todo o universo se centraliza no homem –
de que a existência humana é a suprema expressão do processo cósmico – parece
galopar alegremente para o balaio das ilusões perdidas. O fato é que a vida do
homem, quanto mais estudada à luz da biologia geral, parece cada vez mais vazia de
significado. O que no passado, deu a impressão de ser a principal preocupação e obraprima
dos deuses, a espécie humana começa agora a apresentar o aspecto de um
subproduto acidental das maquinações vastas, inescrutáveis e provavelmente sem
sentido desses mesmos deuses.
Um ferreiro fabricando uma ferradura produz também algo quase tão
brilhante e misterioso – uma chuva de faísca. Mas seus olhos e pensamentos, como
sabemos, não estão nas faíscas, e sim na ferradura. As faíscas, na verdade, constituem
uma espécie de doença da ferradura; sua existência depende de um desperdício de
seus tecidos. Da mesma maneira, talvez o homem seja uma doença localizada no
cosmos – uma espécie de eczema ou uretrite pestífera. Existem, é claro, diferentes
graus de eczemas, assim como há diferentes graus de homens. Sem dúvida, um cosmos
afligido por uma infecção de Beethovens jamais precisaria de um médico. Mas um
cosmos infestado por socialistas, escoceses ou corretores da Bolsa deve sofrer como o
diabo. Não é surpresa que o sol seja tão quente e a lusa tão diabeticamente verde.


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