segunda-feira, 19 de junho de 2017

H.L. MENCKEN- A RESTAURAÇÃO DA BELEZA

A RESTAURAÇÃO DA BELEZA

 Os cristãos do tempo dos apóstolos eram quase exatamente como os de hoje – homens sem gosto ou imaginação, futriqueiros e grosseirões, mesquinhos e vulgares. Até quanto sabemos, sua adoração pública era completamente desprovida de qualquer senso de beleza e sua única preocupação era de salvar suas suposta almas. Assim não nos deixaram nada que merecesse ser preservado – nem uma única igreja, liturgia ou mesmo um hino. Os objetos de arte exumados das catacumbas são inferiores aos desenhos e estatuetas dos homens de Cro-Magnon. Toda a comovente beleza que adorna o cadáver do cristianismo, hoje em dia, só foi criada muito depois que os Pais haviam perecido. A fé já tinha séculos de velhice quando os cristão começaram a construir suas catedrais. Pensamos no Natal como um típico festival cristão, e sem dúvida o é; nenhum outro é tão respeitado pelas seitas cristãs ou tão rico em encanto e beleza. Bem, o Natal, como conhecemos, foi quase desconhecido da Cristandade do século XI, quando os restos de São Nicolau, originariamente padroeiro dos agiotas, foram trazidos do Oriente para a Itália. Durante todo este tempo, a Igreja Universal já estava em frangalhos por controvérsias e ameaças de cismas, enquanto a sombra da Reforma já aparecia bem à vista no Ocidente. As religiões – como os castelos, o pôr-do-sol e as mulheres – nunca atingem o seu máximo de beleza enquanto não são tocadas pela decadência. 

 -- 1920

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