Um dos principais encantos da mulher na sociedade humana talvez seja o fato
de que elas são relativamente incivilizadas. No cipoal de repressões e inibições pueris
que tenta enreda-las, continuam a mostrar um lado cigano, meio fora-da-lei, se por
acaso a lei se puser no caminho de seus interesses particulares. Vejamos agora o
homem. Os picos da civilização são exaltados com tanto foguetório pelos
sentimentalistas, que não conseguimos enxergar seus desprogressos. Intrinsecamente,
não passam de um ardil para pôr os homens na linha. Seu símbolo perfeito é a marcha
tipo passo-de-ganso. No sentido convencional, o homem civilizado é aquele que melhor
conseguiu frear e conter seus instintos sinceros e naturais – ou seja, o homem que
cometeu as violências mais cruéis contra o seu próprio ego no interesse do bem-estar
público. O valor deste bem-estar é sempre superestimado.
Para que serve, no fundo?
Simplesmente para favorecer o maior número – de velhacos, ignorantes e galinhas mortas.
A aptidão para se submeter e prosperar confortavelmente nesta civilização de
pés-rapados é muito mais marcante nos homens que nas mulheres, e maior ainda
entre os homens inferiores do que entre os homens de categoria superior. Deve ser
óbvio, até para um asno tão patético quanto um professor universitário de História,
que pouquíssimos dos homens de primeira classe eram inteiramente civilizados, no
sentido que lhe atribuem os jornais. Pense em César, Napoleão, Lutero, Frederico o
Grande, Comwell, Barba Ruiva, Inocêncio III, Bolívar, Aníbal, Alexandre e, para
chegar aos nossos tempos, Grant, Stonewall Jackson, Bismarck, Wagner e Cecil
Rhodes.
O fato de que as mulheres têm uma capacidade maior do que os homens para
controlar e esconder suas emoções não é uma indicação de que elas sejam mais
civilizadas, mas uma prova de que elas são menos civilizadas.
Esta capacidade é uma
característica dos selvagens, não dos homens civilizados, e sua perda é um dos
prejuízos que a espécie tem pago por seus canhestros picos de civilização. O
verdadeiro selvagem – sempre reservado, digno e cortês – sabe como mascarar seus
sentimentos, mesmo diante da mais temível ameaça; o homem civilizado sempre se
rende à ameaça. A civilização torna-se cada vez mais histérica e babona e,
especialmente sob a democracia, tende a degenerar num mero bate-boca entre
dementes. O único objetivo da prática política, por exemplo, é o de manter o povo
alarmado (e, portanto, clamando por ser conduzido em segurança) por uma galeria
interminável de capetas e papões, todos, claro, imaginários.
As guerras fugiram ao controle dos homens superiores – os únicos capazes de
julgar sem paixão, mas com inteligência, as causas por trás delas e as conseqüências
que advirão.
Agora passaram a ser declaradas assim que se põe uma multidão em
pânico, e só terminam quando já esgotaram sua fúria. Neste ponto, o efeito da
civilização foi o de reduzir uma arte que era o repositório da coragem, e da vocação
inata de alguns dos melhores homens, ao nível de um assalto a um bordel ou ao de
uma briga no cais. Todas as guerras da Cristandade são agora repelentes e
degradantes; sua condução passou das mãos dos nobres cavaleiros para as dos
demagogos, agiotas e camelôs de atrocidades. Para podermos reconstituir a guerra em
grande estilo, como concebiam o príncipe Eugène, Marlborough e o velho Dessauer,
temo que recuar aos povos bárbaros.
1921
O LIVRO DOS INSULTOS
Assinar:
Postar comentários (Atom)
-
“Eu também só uso os famosos produtos de beleza da Helena Frankenstein. ” (Assombração)
-
“Vó, a senhora já ouviu falar em algoritmo?” “Aldo Ritmo? Tive um vizinho que se chamado Aldo, mas o sobrenome era outro.”
-
BABY LAMPADA Coisa própria da juventude; o afobamento, o medo do futuro, não ter o apoio da família; tudo isso faz do ser inexperiente ...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.