segunda-feira, 24 de abril de 2017

O OBSERVADOR

Final de tarde, horário de verão. Estou aqui na varanda observando o movimento até onde meus olhos alcançam. Temperatura boa de 25 graus. Como estou num lugar alto consigo ver os pedestres se digladiando por espaço na viela estreita. Seu Antonio do Armazém Ramires está na porta conversando com uma freguesa magrela, de nariz adunco, cheia de gestos e requebros. Pelo que posso ouvir está falando das intromissões da sogra no seu casamento. Um ciclista distraído se enrosca num carinho de picolé, para desespero do vendedor que esbraveja contra ele. O carinho tomba lateralmente, mas os picolés não caem. Dona Zuleika está na janela controlando Paulo, o marido galinha que bate papo com os colegas no ponto de táxi da esquina. Dona Eufrásia, costureira da rua, abre o portão para que entre Eunira, mocinha que está nos preparativos do enxoval de casamento. Os moleques Tico e Fubá muito entretidos jogando bolitas num cantinho de terra que separa os jardins de Milena, mãe de Fubá. Como é período de férias, inúmeras crianças e adolescentes gastam os chinelos pelas calçadas. Amador, o chaveiro, sentado detrás de uma mesinha desgastada assinala cartões da Megasena e sonha acordado em ficar milionário. Assim já comprou inúmeras fazendas e automóveis de luxo. Dona Cleci abre uma fresta na janela e observa as moças da vizinhança, sendo que o seu forte é a maledicência. Um branquelo careca e armado passa correndo, sendo perseguido por dois chineses que também trazem armas nas mãos. Que posso fazer? Sou apenas um canário observando o movimento da rua aqui do meu mundinho da gaiola.

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