quarta-feira, 8 de março de 2017

DO BAÚ DO JANER CRISTALDO- quinta-feira, julho 30, 2009 BR-319 E AMAZÔNIA

Caro Janer,

Finalmente algo para discordarmos. Porque, para mim, o asfaltamento da BR-319 não deve ser levado adiante. Concordo que alguma forma digna de se chegar a Manaus que não seja pela água nem pelo ar precisa ser criada. Não há a menor dúvida. Mas que seja então uma ferrovia, conforme sugerido por todos os estudos de impacto ambiental apresentados até agora.

Explico. Não é a falta de estrada que isola Manaus. O que isola Manaus é a sua localização. Porque, em primeiro lugar, uma rodovia não vai tornar os produtos mais baratos - veja que o caminho até Rio Branco é asfaltado e o tomate não é mais barato por lá do que em Manaus por isso.

Também não vai melhorar o transporte de passageiros. Em que lugar do mundo se anda milhares de quilômetros de carro (ou pior, em ônibus balançando para lá e para cá) e não, majoriamente, de trem? Mais do que isso, imagine o custo da manutenção de uma estrada em uma região que chove (e chove e chove e não para de chover) que nem a amazônia brasileira. Vai ser uma luta interminável para ela não ficar intransitável novamente.

E, por último, uma estrada nova, na amazônia, leva consigo um rastro de devastação florestal ao seu redor. Logo aparece o gado, logo aparece a soja. E vai embora a floresta, causando impactos climáticos no mundo inteiro, matando a fauna e a flora que um dia poderiam render descobertas científicas e dinheiro. Não é esse modelo de desenvolvimento, terceiro-mundista, de produção barata de produtos sem valor agragado, que desejo.

A ferrovia, por não permitir que os infelizes desçam no meio do seu caminho e derrubem a floresta o quanto quiserem, diminui esse impactos. Mais do que isso: pela distância ser grande, no final os custos de frete e as passagens ficam bem menores do que se for feita uma ferrovia. Quando nossos avós eram piás já se sabia disso, sempre se soube.

A opção da ferrovia é uma realidade, já foi levantada várias vezes. Mas parece que pode acabar perdendo pro fator psicológico bobo de "precisamos de uma rodovia, todo mundo que se preze tem uma". Veremos.

Abraço,

Ricardo Mioto

 
BRASIL PERDE
O TREM DA
HISTÓRIA


De acordo, Ricardo!

Ocorre que o Brasil, desde Juscelino, fez uma opção pelo carro. Perdemos o trem da história, sem trocadilhos. A rodovia já está feita e me parece tarde para pensar em trilhos. Em meus dias de jovem, eu ia de trem de São Paulo a Dom Pedrito. Hoje não se vai nem ao Rio. Viajando pela Europa com minha filha, para minha surpresa, ouvi dela: "é a primeira vez que entro em um trem". Ela nascera em um mundo que renunciara ao conforto, praticidade e prazer de viajar de trem. Há horas afirmo que sempre importamos o pior do Primeiro Mundo. Pior ainda, abandonamos o melhor. Em todo caso, duvido que os ecochatos e ornitólogos aceitem a idéia de uma ferrovia. Eles são contra todo desenvolvimento.

Há alguns anos, vi uma reportagem no 60 Minutes sobre uma região da Índia que abrigava quarenta milhões de habitantes. O programa começava mostrando mulheres e crianças carregando em baldes, para próprio consumo, uma água preta e lamacenta. Outras juntavam esterco de vaca, usado como combustível. Havia um projeto de uma represa para abastecer de energia elétrica e água potável a região toda. Uma ONG vetou o projeto junto ao Banco Mundial, com a argumentação de que a represa ameaçava uma espécie qualquer de tigre. A represa gorou e quarenta milhões de pessoas continuaram a beber água podre e cozinhar com esterco de vaca.

A reportagem entrevistava em Nova York, em um elegante apartamento, a porta-voz da ONG que conseguiu sepultar a represa. Não sei se a moça percebeu a ironia, mas o repórter a filma enchendo um copo de límpida água de torneira. O repórter quer saber porque privar milhões de pessoas de água limpa. A moça dizia mais ou menos o seguinte (cito de memória): não queremos que aquelas populações adquiram os hábitos de consumo do Ocidente. É como se dissesse: esses hábitos do Ocidente são privilégios de ocidentais. Vocês aí, continuem catando esterco de vaca.

Mais de trezentos projetos de barragens já foram engavetados no mundo, especialmente na África, Ásia e América Latina, por obra de ONGs. Estas organizações estão cometendo crimes contra a humanidade, ao condenar milhões de pessoas a viver longe da água potável e energia elétrica. Seus militantes são sempre oriundos de países desenvolvidos, todos pontilhados de represas. Sua ação sempre incide sobre países do Terceiro Mundo, que precisam de energia para abandonar esta condição. É preciso olhar com cautela para os defensores aguerridos da fauna. Tigres ou passarinhos, bichinhos comoventes tipo o mico-leão-dourado, constituem uma ameaça ao desenvolvimento de países pobres quando manipulados por ongueiros.

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