quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Como a Internet matou o repórter isento? Por Instituto Liberal

Nos idos dos anos 1980, fazia sucesso nas rádios uma musiquinha pegajosa cujo refrão revelava uma verdade inconteste: “Video killed the radio star”. De fato, a popularização da televisão fez a radiodifusão perder muito de sua importância, relegando-a a um papel secundário na missão de informar e entreter o público. Mas eis que chegamos a 2016, e um fenômeno similar parece estar ocorrendo: tudo leva a crer que a Internet matou (ou deixou capenga) a tarefa da mídia convencional (canais de TV, jornais, revistas e demais veículos de comunicação do gênero) de manter o cidadão informado – e esta, em tentativa desesperada de sobreviver (e manter seus patrocinadores), resolveu mesclar entretenimento e informação. Em busca da audiência perdida para os celulares e notebooks, os noticiários resolveram preterir a objetividade em favor da passionalidade, e as consequências dessa metamorfose se fazem sentir de várias formas distintas – umas mais daninhas, outras nem tanto – a cada notícia “isenta” divulgada.
Primeiramente, é bom que se diga que o drama vivenciado pelo jornalismo tradicional é real. Especialmente a partir da introdução de smartphones de baixo custo no mercado, a qual tornou possível que até mesmo pessoas de baixa renda acessassem a grande rede, saber que ao meio-dia ocorreu um assalto ou um acidente de trânsito em nosso bairro, que vai chover daqui a duas horas, que meu time ganhou o clássico local ou que a atriz da novela está de namorado novo, são todas informações que chegam pelo Whatsapp ou por outros meios a todo instante. Desta forma, a informação em estado bruto perdeu valor de mercado, em prejuízo das mídias clássicas, e até mesmo noticiários de renome viram-se ameaçados de extinção. Ou seja, o monopólio da comunicação de massa estava quebrado, e não adiantava (desta vez) ir de joelhos até Brasília implorar por reserva de mercado. Enfrentar a competição de youtubers com milhões de inscritos em seus canais e blogueiros seguidos por não menos internautas apresentou-se como o grande desafio desta atividade econômica. Acrescentem ainda as centenas de canais de TV a cabo disponíveis a preços módicos (muitos dos quais podem ser visualizados online, inclusive), e temos a tempestade perfeita aproximando-se do mundo do Cidadão Kane.
A solução da qual lançaram mão tais empresas? Colocar “tempero” na notícia insossa. Se antes a voz marcante de Léo Batista era suficiente para atrair a atenção dos aficionados por futebol para os “Gols do Fantástico”, algumas décadas depois se fez necessário colocar em campo Tadeu Schmidt e seus cavalinhos torcedores.  O saldo desta estratégia foi ótimo, e ela pode ser observada em diversos programas, desta e de outras emissoras, os quais passaram por alterações no sentido de não oferecer apenas a notícia ao espectador, ouvinte ou leitor, mas também diversão no pacote – quem já assistiu ao “Jogo Aberto”, da TV Band, há de concordar comigo. E esta evolução não ficou restrita, claro, ao segmento esportivo. Basta ligar a televisão, o rádio, abrir um jornal ou uma revista (principalmente nas versões digitais), e observar os novos formatos adotados e a maior interação com os usuários de redes sociais.
Até aí, nenhum problema a ser constatado. Pelo contrário: a concorrência no livre mercado fez seu milagre, e gerou mais qualidade a custos minorados para os consumidores – e quem não concorda, só precisa mudar de canal. É difícil negar que a maior dinamicidade foi um ingrediente que conferiu uma roupagem muito mais moderna e aproximou público e apresentadores de uma forma sem precedentes.
A celeuma teve início quando começaram a adicionar mais tempero do que informação nos noticiários, especialmente quando estão envolvidas questões políticas, jurídicas e econômicas. Pior: nestes campos, costuma-se fazer uso imoderado de pimenta esquerdista, e de forma dissimulada. A dor de estômago, claro, fica para quem tem paladar conservador ou liberal mais aguçado.
Ressalte-se que emitir opinião (do jornalista ou da própria instituição) não apenas é salutar, mas também inevitável. Comentaristas dos mais diversos assuntos prestam um serviço primordial, na medida em que não é humanamente possível ser versado em todas as áreas de conhecimento, e, por isso, um especialista que possa “digerir” os dados para o público é sempre bem-vindo. Ademais, não há como exigir isonomia total dos profissionais no trato com as matérias a serem publicadas, visto não estarmos lidando com autômatos, e sim com pessoas. Em maior ou menor grau, portanto, sempre haverá algum ponto de vista manifestado.
Mas o recomendável, todavia, seria sempre o difusor manter informação e opinião em separado, como prezava o padrão clássico de telejornal. Basta lembrar-se de Boris Casoy lendo no teleprompter da câmera principal uma notícia, e, na sequência, voltando-se para uma câmera lateral e proferindo sua análise a respeito do noticiado, separando, de maneira muito explícita, uma coisa da outra – e permitindo que o consumidor “comprasse” apenas aquilo que lhe interessasse. A prática atual, contudo, nos mostra que convicções do próprio repórter ou da empresa onde labora estão implícitas em cada palavra (literalmente) dita ou escrita, transmitindo, pelo uso de métodos sub-reptícios, conceitos ocultos entre os fatos relatados. O pessoal da “caneta desesquerdizadora” encontrou farto material para seu website apenas sondando estes mensagens subliminares nem um pouco discretas, reproduzidas por veículos autodeclarados como de “Centro”:
Outro contratempo gerado por esta mudança de paradigmas no jornalismo: os recrutadores de repórteres e apresentadores passaram a dar preferência para profissionais com virtudes artísticas. Como exemplo, cite-se a substituição das âncoras do programa “Primeiro Impacto” do SBT por um garoto de 18 anos sem formação específica na área. Aparentemente, a interface ficou melhor mesmo (Eduardo Camargo demonstra bastante desenvoltura), mas deixou claro que foi-se o tempo em que a expressão corporal não era uma das principais características exigidas para este ofício. Até mesmo atores profissionais têm sido convertidos em apresentadores, e vice-versa – Dan Stulback na ESPN é uma evidência dessa tendência.

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