TEMPESTADE
O manto da noite cobriu a cidade dos que não voltam e trouxe
junto vento, chuva e granizo. Flores mortas que cobriam as casas seguiram o
vento; as que ficaram foram despedaçadas.
Depois a lua surgiu e iluminou os destroços de metal, plástico, madeira
e cimento espalhados pelos estreitos corredores e becos. Um pássaro tardio na
fuga jazia sobre o brilho do mármore no berço de um ilustre filho da terra. A cruz mestre tombou sobre
velas apagadas e pequenos vasos que estavam sob seus pés. Sobrou apenas um
miseravelzinho do qual o limo já tomava
conta. Dois mendigos que dormiam num jazigo-hotel conseguiram sair ilesos, pois o dito fora
construído com material de primeira e obrado por mãos de quem sabia o que
estava fazendo, sendo que não havia
goteiras tampouco corrente de vento. Estiveram bem seguros durante o evento da
tempestade. Já pequenas árvores também
foram vítimas e se deitaram sobre túmulos com que num abraço. Logo ao lado na
cidade vida, na cidade barulho, na cidade luz, nada, nem mesmo um ventinho
soprou naquela noite. Muitos tentaram explicar, mas ninguém convenceu. Alguns mentirosos criativos dizem ter visto a
figura do demônio soprando sobre o cemitério as nuvens da tempestade. Dizem...
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