Faz
vinte anos que sou um fantasma. Hoje resolvi visitar meu túmulo, matar saudade
da última morada do velho corpo. Encontrei vasos quebrados e intacto ainda um
vidro de Nescafé que outrora carregava flores. O reboco se deteriora, porém
ainda se lê ‘Ana esteve aqui’, isso escrito com carvão. Não sei quem é Ana, talvez uma que namorou
sobre o meu túmulo. Gramíneas e outras ervas nascem ao redor, uma borboleta
amarela pousa e sai rapidamente, pois formigas não dão folga. As letras de
bronze que diziam quem eu era foram roubadas. Bem, a verdade é que há anos não
recebo visita. Não adianta reclamar do abandono, assim é, o tempo passa, todos
morrem e chega o dia em que somos completamente esquecidos.
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