sexta-feira, 27 de maio de 2016

Capitalismo: o verdadeiro e o falso. Veja o que diz João Luiz Mauad Autor: João Luiz Mauad

Em 1776, Adam Smith publicou sua obra magna, Uma Investigação Sobre a Origem e as Causas da Riqueza das Nações, argumentando, em síntese, que a divisão do trabalho e as trocas voluntárias eram as fontes primárias da riqueza das nações.  O governo, então, era visto como mero coadjuvante, cujo papel limitava-se a fazer cumprir os contratos, proteger a vida e a propriedade dos cidadãos.
A escola de pensamento encabeçada por Smith sustentava que o governo deveria ser restringido tanto quanto possível. O “melhor governo é o que menos governa”, ensinava Thomas Jefferson.
Por conta de um desses grandes paradoxos da vida, entretanto, o capitalismo de livre mercado, preconizado pela Escola Clássica, embora tivesse trazido muita riqueza aos países que o abraçaram, foi sendo paulatinamente substituído, principalmente durante o século XX, por uma nova forma de capitalismo, denominado “capitalismo de compadres” (“crony capitalism”).
O processo de substituição foi bastante facilitado pelo fato de que muito poucas pessoas apreciavam/apreciam, de fato, o verdadeiro capitalismo – mesmo entre as que se dizem capitalistas. Como a torcida do Botafogo, estas pessoas talvez coubessem todas dentro de uma Kombi.
Não é de admirar. O capitalismo de mercado (o verdadeiro!), afinal, é muito arriscado, pouco previsível e totalmente incontrolável.  Esse modelo, embora possibilite uma acumulação coletiva extraordinária de riqueza, está longe de ser um caminho seguro para o sucesso individual. Você pode ser inteligente, trabalhar duro e frequentar as melhores escolas. Ainda assim, não haverá garantia de que será bem sucedido.  E, mesmo que você consiga alcançar o almejado sucesso, não há garantia alguma de que conseguirá mantê-lo.
Sob a égide do verdadeiro capitalismo – como ensinou Hayek e ao contrário do que pensam os socialistas -, a riqueza não vai necessariamente para as mãos dos mais fortes, determinados, preparados, perseverantes ou inteligentes, embora tais atributos ajudem bastante. Para o bem ou para o mal, o acaso e a sorte desempenham um papel nada descartável.  Neste modelo, a riqueza também não é estática.  A mesma roda da fortuna que a trouxe pode levá-la para longe de você, pois nunca para de girar.
Justamente por isso, os mais ricos costumam ter verdadeira compulsão por tentar fazer parar a roda. Na perseguição deste objetivo, utilizam vários estratagemas para manter seus negócios livres do risco e, principalmente, da concorrência.  Sua melhor arma, frequentemente, é o poder de polícia do estado.
Não por acaso, milhares de leis, normas e regras são inventadas e editadas a cada ano, com o propósito de regular tudo quanto seja possível, desde as profissões que as pessoas podem praticar, até requisitos de licenciamento e tarifas que tornem mais difícil entrar em um negócio lucrativo.  Alguns acham que o cachorro é o melhor amigo do homem, mas isso é falso. O melhor amigo dos homens, pelo menos dos muito ricos, é o governo.
Engana-se, porém, quem pensa que só os ricos veneram o governo.  Os pobres também aprenderam a amá-lo – de paixão.  A explicação é simples: quase todo mundo deseja possuir renda e riqueza, de preferência da forma mais fácil e rápida possível. Ora, como a maneira mais fácil de obte-las é tomando-as de alguém, impunemente, todos se voltam para o estado, única instituição legalmente autorizada a confiscar a propriedade de uns e entregá-la a outros.
Assim, os pobres pedem que o governo cobre mais imposto dos ricos e faça a redistribuição da renda. Os grandes empresários (a maioria, pelo menos), depois de ricos e estabelecidos, querem que o governo proteja a sua riqueza, além de ajudá-los a multiplicá-la.  A classe média, como marisco entre o mar e a pedra, paga a conta.
Os políticos, em geral, aprenderam a fazer as duas coisas.  Compram os votos dos pobres com pequenas “benevolências” e uma retórica calcada no vitismismo. Seu apoio aos ricos é mais sutil, dissimulado, porém muito mais caro. Créditos diretos a taxas subsidiadas, isenções e incentivos fiscais, contratos viciados, além de muitos, muitos empregos públicos para os amigos do rei.  Nesse jogo de faz-de-conta, os ricos se queixam dos pobres, os pobres reclamam dos ricos, ambos maldizem o governo, mas todo mundo adora o estado.  E viva a luta de classes!
O problema é que, como já advertia Adam Smith, as ingerências do governo têm um efeito nefasto sobre a economia. Quanto mais o governo interfere no mercado, desvirtuando os seus sinais e a alocação eficiente dos recursos,  menos apta estará a economia para produzir riqueza real. Mais e mais recursos serão desviados do seu destino natural para serem aplicados em maus investimentos. Além disso, burocracia, advogados, despachantes, contadores, regulamentação, excesso de leis e encargos trabalhistas, alta  carga tributária, comissões, subornos, etc.; tudo isso tem um preço.  Aqui, os economistas costumam chamá-lo de “custo Brasil”, mas seu nome técnico é custo de transação.
Quanto maior esse custo, mais difícil costuma ser a vida e a riqueza das nações.
Mas quem está preocupado com isso?
Fonte: Ordem Livre, 12/01/2012

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