quinta-feira, 21 de abril de 2016

O Brasil e a sua mórbida relação com a canalhice- Instituto Liberal- Por Rafael Hollanda *

“Subdesenvolvimento não se improvisa, é obra de séculos!” – Nelson Rodrigues
Se existe algo que me deixa muito entristecido no Brasil é a admiração, às vezes secreta e às vezes expressa, aos maus-caracteres. O brasileiro já está tão doente e tão profundamente ‘encavernado’ no mundo da corrupção e das más-feitorias que acha normal que um político roube o seu dinheiro. O brasileiro parece, neste quesito, rir para não chorar, quando na verdade deveria lutar. A sociedade se encontra em uma espécie de anestesia covarde: vê algo gravíssimo, alarmante, mas, de tão sofrida, dá risada, se exalta e esquece no momento seguinte. Isso não é de hoje; isso já vem de tempos e é uma das principais razões que levam o Brasil a amargurar a condição de país subdesenvolvido.
Nas conversas de bar, no trabalho e nas rodas de amigos, não é raro que se escutem coisas do tipo: “viu lá o carro do Senador? Caramba!”; “olha o deputado fulano de tal, esse é espada!”. Não há nenhum problema em exclamar a sua admiração por um carro ou por uma pessoa, mas dentro desses contextos que citei, existe uma mensagem implícita: o que se admira, na verdade, não é o carro ou a pessoa, é a malandragem, a esperteza e a sem-vergonhice do sujeito. O cara chegou lá! Foi malandro o suficiente! É o cara! É assim que o Brasileiro pensa.
Esses dois exemplos que citei, infelizmente, são reais e foram ouvidos por mim em um dos melhores restaurantes do Rio de Janeiro, quando um Parlamentar acusado de corrupção, que não citarei o nome, ingressou na casa. Umas quatro pessoas de uma mesa falaram do carro. Os ocupantes de outra mesa, bem maior e composta inclusive por empresários conhecidos, para a minha surpresa, teceram o comentário “esse é espada!”, tendo, também, um desses ido lhe dar um caloroso aperto de mão. Tal cena exibe a influência da máquina burocrática nacional e o amplo poder de controle e decisão que os políticos têm sobre a economia do Brasil, o que levou à prostituição do empresariado em troca de favores e benefícios. A Petrobras, o BNDES e as empreiteiras aí estão para provar isto.
Outra reflexão que me veio à mente foi que todos os indivíduos que tiveram tal conduta idólatra para com o parlamentar pertencem à elite financeira do País, isto é, aqueles que deveriam dar o exemplo de virtude, de trabalho, de lucidez e de responsabilidade. Mas não!  No Brasil, sob estes 13 anos de governo revolucionário, parte espessa da elite ficou amedrontada e decidiu bajular o governo. Aqueles que deveriam dar o exemplo mostram como não se deve agir. Os que deveriam mostrar trabalho mostram malandragem e promiscuidade com o governo; os que deveriam mostrar lucidez, não acham nada de mais pegar um pouquinho de verba pública para acelerar seus negócios.
Essa conduta não vem, é claro, somente da elite; vem do País como um todo, de todas as classes sociais. Elas existem no mundo inteiro, é verdade, mas no Brasil ela é suigeneris. Recentemente, um programa de televisão fez um teste de honestidade onde uma câmera escondida filmava um pedestre em uma rua movimentada deixando cair a sua carteira cheia de dinheiro e documentos no chão. Ao final do teste, constatou-se que 70% dos transeuntes pegaram para si a carteira com tudo.
Hoje em dia, a canalhice do Brasil está em maior evidência por conta da sem-vergonhice ilimitada do “governo revolucionário” e sua plêiade de bandidos. A canalhice está politizada em excesso nessa nossa época, mas ela já era retratada com frequência na nossa literatura e enfatizada pelos ilustres que passaram por esta terra. Nelson Rodrigues já dizia que “o brasileiro quando não é canalha na véspera, é canalha no dia seguinte” e a sua conhecida série de contos “A vida como ela é” faz uma radiografia da realidade do Brasileiro.

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