Cristo morto, meu caro João, seu cadáver assume um valor imponderável. Para Paulo, o criador do cristianismo, só interessa o cadáver de Cristo. Não vemos, em suas epístolas, referência alguma ao Cristo vivo. Tanto que escreve na primeira epístola aos Coríntios: “Mas se não há ressurreição de mortos, também Cristo não foi ressuscitado. E, se Cristo não foi ressuscitado, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé”.
Sem o cadáver do judeu aquele, não existiria cristianismo, nem catolicismo nem papa nem Vaticano. Cadáveres rendem altos dividendos. Diz Guerra Junqueiro, em Os Parasitas:
No meio duma feira, uns poucos de palhaços
andavam a mostrar, em cima dum jumento
um aborto infeliz, sem mãos, sem pés, sem braços,
aborto que lhes dava um grande rendimento.
Os magros histriôes, hipócritas, devassos,
exploravam assim a flor do sentimento,
e o monstro arregalava os grandes olhos baços,
uns olhos sem calor e sem entendimento.
E toda a gente deu esmola aos tais ciganos:
Deram esmola até mendigos quase nus.
E eu, ao ver este quadro, apóstolos romanos,
eu lembrei-me de vós, funâmbulos da cruz,
que andais pelo universo, há mil e tantos anos,
exibindo, explorando o corpo de Jesus.
E, por falar em trinta dinheiros, ainda do velho Guerra, O dinheiro de São Pedro:
De tal modo imitou o papa a singeleza
do mártir do calvário
que, à força de gastar os bens com a pobreza,
tornou-se milionário.
Tu hoje podes ver, ó filho de Maria,
o teu vigário humilde
conversando na Bolsa em fundos da Turquia
com o Barão Rotschild.
A cruz da redenção, que deu ao mundo a vida,
por te haver dado a morte,
tem-na no seu bureau o padre-santo erguida
sobre uma caixa forte.
E toda essa riqueza imensa, acumulada
por tantos financeiros,
o que é a economia, oh Deus! foi começada
só com trinta dinheiros!
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“Quando a fome é grande não tem jeito, precisamos apelar. Ontem peleei com um hipopótamo. Quase perdi o pelo.” (Leão Bob)
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