domingo, 28 de fevereiro de 2016

BANDIDO AMIGO- Um jihadista no brasil

Muhammad al-Arifi (à direita) em visita a uma favela paulistana: discurso de ódio e milhões de seguidores na internet

O Estado Islâmico já atraiu mais de 30 000 jovens de 100 países para engrossar as fileiras de seu exército terrorista, desde 2014. O chamado para que muçulmanos que vivem no Ocidente lutem na guerra que espalha destruição e morte no Iraque e na Síria ou participem de atentados em seu próprio país geralmente começa com a pregação, pela internet ou em mesquitas, de líderes religiosos radicais, que apresentam a morte em nome da religião como algo altamente recomendável para quem quer provar o comprometimento com o Islã. Assim foram recrutados os jovens que perpetraram os ataques de janeiro e novembro do ano passado em Paris. A mesma estratégia de aliciamento religioso levou um casal de muçulmanos que vivia na cidade americana de São Bernardino a matar catorze pessoas em nome da jihad, a guerra santa. O Brasil não está imune à atuação dos pregadores radicais. No mês passado, entre 18 e 28 de janeiro, o xeique saudita Muhammad al-Arifi pregou a jovens e crianças muçulmanos em São Paulo, no Paraná e em Santa Catarina. Considerado um dos muçulmanos mais influentes do mundo, Al-Arifi é tratado na Europa como uma ameaça proporcional ao seu sucesso.

O clérigo de 45 anos entrou no radar dos serviços de inteligência europeus com a deflagração da guerra civil na Síria, em 2011. Ele passou a usar a internet para defender a reação violenta dos sunitas contra o regime de Bashar Assad, pertencente à minoria alauita, alinhada com o ramo xiita do islamismo. "É garantida a permissão para lutar àqueles que estão sendo perseguidos. Vocês estão no front, mas nós iremos se­gui-los e lutaremos com vocês", disse o clérigo em uma de suas manifestações. Al-Arifi possui o maior número de seguidores nas redes sociais do Oriente Médio e suas declarações têm a força de um canhão. Ele contabiliza 14,3 milhões de fãs no Twitter e 21 milhões no Facebook. Em 2013, disse em uma conferência de apoio às forças anti-Assad que "os xiitas são infiéis que devem ser mortos". Presente à conferência estava o então presidente egípcio Mohamed Morsi, integrante do grupo fundamentalista Irmandade Muçulmana, que foi deposto em um golpe militar no mês seguinte.

Em 2012, durante uma das frequentes visitas que fez ao Reino Unido, Al-Arifi pregou aos muçulmanos da mesquita Al Manar Centre, em Cardiff, capital do País de Gales. O discurso incandescente do saudita foi acompanhado por agentes de segurança britânicos, que detectaram o risco potencial do clérigo. Sua retórica exaltava a nobreza dos muçulmanos que ofereciam a vida em combates em nome do Islã. Dois anos depois, o jovem Reyaad Khan e os irmãos Nasser e Aseel Muthana, que estavam na plateia de Al-Arifi, apareceram em um dos vídeos de propaganda do Estado Islâmico. Khan, de 21 anos, morreu em julho do ano passado em um ataque com drone realizado pela Inglaterra. A constatação de que suas mensagens em favor da jihad podem ter levado os ingleses a se alistar nas fileiras do EI fez com que o governo inglês proibisse, em 2012, a entrada de Al-Arifi no Reino Unido, alegando que ele "representava uma ameaça à segurança".

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