A morte de Umberto Eco foi registrada nos principais jornais do mundo. Aqui, Miriam Leitão escreveu que O Nome da Rosa fez companhia a ela, no início dos anos 80, quando estava numa crise de tristeza. Número Zero, lançado no ano passado, foi o último romance do genial italiano. Intelectual de esquerda, nunca fez concessões à ignorância. É dele a seguinte crítica: “As redes sociais deram o direito à palavra a imbecis que antes só falavam em bares, após um copo, e não causavam mal à coletividade.
Agora é a invasão dos imbecis.” No dia da morte de Umberto Eco, depois da notícia na internet, li o seguinte comentário de internauta: “Mais um Zé-Ninguém que ninguém conhece”. A manifestação de estupidez confirma a crítica de Umberto Eco. É a voz dos imbecis que antes só tinham voz depois de um copo no bar. O comentário está assinado, significativamente por “Torcedor Fanático”. Nada mais fácil de entender. Por que a pessoa tem orgulho de sua ignorância e a expõe com arrogância? É uma defesa, diria o Velho Freud. Mas, certamente se tivesse tristeza e vergonha de sua situação, iria buscar no conhecimento a alegria de aprender.
Venho aprendendo a cada dia há mais de 75 anos. Por exemplo, no sábado em minha casa, uma inglesinha que brilha no The Phantom of the Opera de Londres, ensinou-me a pronunciar certo a marca do chá Twinnings que tomo todos os fins-de-tarde. Pena que vivemos no país que não dá importância ao conhecimento e ao ensino, porque mais vale o pistolão ou a cor da pele que o mérito e a capacidade pessoal. Acabo de rever uma entrevista de Lula - então candidato - a dizer que tem preguiça de ler “eu não gosto de ler”.
O ex-ministro Almir Pazzianotto contou-me que, quando era advogado do Sindicato dos Metalúrgicos, sofria com Lula, que ironizava com desprezo os detentores de curso superior. Num país em que um líder tem essa postura, o que esperar de um povo que descobre que para ser Presidente da República não é preciso ler nem estudar? Quanto a mim, fico feliz em ter um pouco de Umberto Eco na cabeça. O chapéu de feltro que uso é feito na lombarda Alexandria, onde o genial escritor nasceu, há 84 anos.
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