sábado, 30 de janeiro de 2016

O relato de uma ex-escrava sexual do Estado Islâmico

Diogo Schelp-VEJA
Edição alemã
Capa do livro “Eu Continuo Sendo uma Filha da Luz – Minha Fuga das Garras dos Terroristas do EI”

No jornal alemão Süddeutsche Zeitung saiu esta semana uma entrevista com uma refugiada iraquiana da minoria yazidi que acaba de publicar um livro sobre o período em que esteve nas mãos dos terroristas do Estado Islâmico (EI ou Isis). A jovem, que se apresenta com o pseudônimo Shirin porque teme pela vida da mãe e das irmãs, que continuam em poder dos islamistas, foi raptada em agosto de 2014, aos 17 anos, e transformada em escrava sexual. Ela foi vendida, sucessivamente, a nove integrantes do grupo, que fizeram dela sua “esposa” — um eufemismo para um cotidiano de estupros, espancamentos e humilhações constantes.

Os yazidis são curdos étnicos que cultivam uma religião com elementos do zoroastrismo, do cristianismo e do islamismo. Eles são considerados adoradores do diabo pelos radicais do EI. Quando o grupo avançou sobre o território do Iraque, em meados de 2014, vindo da Síria, muitos muçulmanos sunitas denunciaram seus vizinhos yazidis. Foi o que aconteceu com Shirin, cuja identidade religiosa foi delatada aos terroristas por um de seus professores de colégio. Depois de um longo período de suplícios, durante o qual tentou o suicídio, ela finalmente conseguiu fugir, com a ajuda do último homem que a comprou.





As seguintes frases de Shirin foram extraídas da entrevista concedida a Ruth Schneeberger:

“Sempre que eu pensava que não podia ficar pior, ficava pior.”

“Meu pai tenta sobreviver em um campo de refugiados. Minha mãe foi levada (pelos terroristas) para a Síria. Minha irmã mais nova foi tirada dela. Ela está com nove anos agora. Minha irmã mais velha foi raptada e levada para Mosul. Eu perdi o contato com elas. Eu acho que nunca mais vou ver minhas irmãs.”

“Apenas quando eu puder ter minha mãe nos braços de novo, serei capaz de pensar além do dia seguinte.”

“Eu tenho medo de que atentados como os de Paris ocorram também aqui (na Alemanha).”

“Eu gosto muito deste país (a Alemanha). Aqui o ser humano tem valor. O ser humano tem voz. Não é feita distinção entre as religiões.”

Voltei. Estamos em pleno século XXI e há lugares onde a escravidão está sendo reimplantada. Dá para acreditar?

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