quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Alexandre Garcia- A verdade do carnaval

Costuma-se comparar o carnaval a uma catarse, em que emerge o inconsciente, livre de censura. Exemplo disso é o bloco criado por jornalistas de Brasília em 1978, para satirizar e criticar o governo Geisel. O Pacotão já faz 37 anos e, ao contrário de O Pasquim, resistiu aos novos tempos de democracia, mesmo ausente o contraponto inspirador da ditadura, que, aliás, deixou incólumes O Pasquim, o Pacotão e a Banda de Ipanema, criada em 1965 para afrontar o regime recém instalado. Está na natureza mais inteligente do carnaval a oportunidade da crítica aos costumes e à política. Por toda parte, neste ano, vêem-se representações da dupla Lula-Dilma, vestidos de macacão e capacete da Petrobras, cada um com sua faixa presidencial “Mensalão” e “Petrolão”, tal como carnavais anteriores mostraram os anões do orçamento, PC Farias e José Dirceu/Marcos Valério, entre outros.

As trapalhadas oficiais são tantas que quem tem visto passar o bloco do governo fica a imaginar se carnaval é o que está confinado a alguns dias do calendário ou existe o ano todo. Melhor seria se fosse apenas uma coreografia o desmonte de setor elétrico, o preço-fantasia dos combustíveis, as atravessadas de bateria entre o Palácio do Planalto e o Congresso, o excesso de figurantes, os gastos inúteis com miçangas, plumas, paetês e alegorias. O escritor Affonso Romano de Sant’Anna aproveitou o carnaval para lembrar das máscaras ideológicas que usávamos no século XX. Ele confessa ter escapado de radicalismos ideológicos por “ter esgotado dentro da igreja(que é o lugar próprio) minha experiência religiosa.” No Brasil, no carnaval confuso da política, partido é religião e estado ao mesmo tempo. Na Alemanha de Hitler, “o partido é o Estado; o Estado é o partido”.

No comunismo soviético a confusão é a mesma. Nas ditaduras que não permitem blocos satíricos, o partido é o estado e é religião. O ex-presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, acaba de qualificar de “bobagem” impedir que partido político indique diretor da estatal. Mistura-se tudo e o partido privatiza a estatal como sua. No século XX, fascismo, comunismo, nazismo e populismo foram desgraças da Humanidade.

O Brasil ainda não se livrou delas, mas resta o carnaval para criticá-las. Ridendo castigat mores, dizia o teatro satírico romano. Pune-se com o riso. Mas os desgraçados riem só no carnaval; durante o resto do ano são os causadores da desgraça que riem da ingenuidade da maioria, que acreditou nos apelos populistas. Nazismo e comunismo sempre vêm fantasiados de democracia, sob a máscara da demagogia. Hoje vale descobrir quanta verdade está nas máscaras de políticos que pulam nas ruas brasileiras.

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