domingo, 15 de fevereiro de 2015

PORTAL LIBERTARIANISMO-O Sniper Americano não foi um herói

Se o blockbuster de Clint EastwoodSniper Americano queria criar um franco debate público sobre guerra e heroísmo, o grande diretor está prestando um serviço necessário para o país e para o mundo, mas da pior forma possível.
Esta não é uma crítica do filme, nem uma crítica ao livro autobiográfico de Chris Kyle, em que o filme é baseado. Meu interesse é na avaliação popular de Kyle, o sniper mais prolífico dos EUA, um título que ele recebeu após quatro passagens no Iraque.
Vamos revisar alguns fatos, que talvez Eastwood tenha pensado serem óbvios demais para serem mencionados: Kyle fez parte de uma força de invasão: os americanos foram ao Iraque. O Iraque não invadiu os EUA ou atacou americanos. O ditador Saddam Hussein nunca nem mesmo ameaçou atacar americanos. Ao contrário do que a administração de George W. Bush sugeriu, o Iraque não tinha nada a ver com os ataques de 11 de Setembro. Antes dos americanos invadirem o Iraque, al-Qaeda não estava lá. Nem estava na Síria, no Iêmem e na Líbia.
A única razão que Kyle foi ao Iraque foi que Bush/Cheney & Companhia lançaram uma guerra de agressão contra o povo iraquiano. Guerras de agressão, vamos lembrar, são ilegais sob a lei internacional. Os nazistas foram executados em Nuremberg por promoverem guerras de agressão. Por esta perspectiva, podemos nos perguntar se Kyle foi um herói.
Os defensores de Kyle e a política externa de Bush dirão: “É claro que ele foi um herói. Ele salvou vidas americanas”.
Quais vidas americanas? As vidas da equipe militar americana que invadiu o país de outras pessoas, que não havia os ameaçado ou seus companheiros americanos em casa. Se um invasor mata alguém que está tentando resistir a invasão, isso não conta como um ato heroico de autodefesa. O invasor é o agressor. O “invadido” é o defensor. Se alguém é um herói, é o último.
Em seu livro, Kyle escreveu que estava lutando contra o “mal selvagem e desprezível” – e estava “se divertindo” fazendo isso. Por que ele pensa isso sobre os iraquianos? Porque os homens iraquianos – e mulheres; seu primeiro assassinato foi de uma mulher – resistiram à invasão e à ocupação de que ele participou.
Isto não faz sentido. Como eu demonstrei, resistir uma invasão e uma ocupação – sim, mesmo quando são árabes resistindo a americanos – simplesmente não é o mal. Se os EUA tivessem sido invadidos pelo Iraque (um Iraque com um poderoso exército, digamos) os snipers iraquianos matando a resistência americana seriam considerados heróis por todos aqueles que idolatram Kyle? Eu acho que não, e não acredito que os americanos também pensariam assim. Ao invés disso, a resistência americana seria a considerada heroica.
O filme de Eastwood também exibe um sniper iraquiano. Por que ele não é considerado um herói por resistir à uma invasão de sua terra natal, como os americanos em meu exemplo hipotético? (Eastwood deveria fazer um filme sobre a invasão do ponto de vista iraquiano, como ele fez um filme sobre Iwo Jima do ponto de vista japonês juntamente com seu filme anterior sobre o lado americano).
Não importa quão frequentemente Kyle e seus admiradores se referem aos iraquianos como “o inimigo”, os fatos básicos não mudam. Eles eram “o inimigo” – isto é, eles queriam ferir os americanos – apenas porque as forças americanas lançaram uma guerra não-provocada contra eles. Kyle, como outros americanos, nunca tiveram que temer que um sniper iraquiano fosse matá-los em casa nos Estados Unidos. Ele tornou os iraquianos seus inimigos ao entrar em seu país sem convite, armado com um rifle de sniper. Nenhum iraquiano pediu para ser morto por Kyle, mas com certeza parece como se Kyle tivesse procurado ser morto por um iraquiano (ao invés disso, outro veterano americano fez o trabalho).
É claro, os admiradores de Kyle iriam discordar desta análise. Jeanine Pirro, uma comentarista da Fox News, disse:
Chris Kyle tinha certeza de quem eram os inimigos. Eles eram os que seu governo os mandou matar.
Espantoso! Kyle era um herói porque ele ansiosamente and habilmente assassinou quem quer que o governo mandou matar? Conservadores, supostamente defensores de um estado mínimo, com certeza tem uma noção estranha de heroísmo.
Desculpem-me, mas eu tenho problemas em ver alguma diferença marcante entre o que Kyle fez no Iraque e o que Adam Lanza fez na escola Sandy Hook. Certamente não foi heroísmo.
// Tradução de Robson Silva. Revisão de Ivanildo Terceiro. | Artigo Original

Sobre o autor

Sheldon Richman
Sheldon Richman é um escritor político americano, acadêmico, ex-editor da revista The Freeman, atual vice presidente da Future of Freedom Foundation e editor da Future of Freedom, publicação mensal da FFF.

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