terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Nelson Barbosa pode funcionar no curto prazo, e isso é péssimo para o Brasil Por Bernardo Santoro

De uma forma geral, o mundo liberal e o mercado financeiro demonstraram imenso pessimismo com a escolha de Nelson Barbosa para substituir Joaquim Levy como Ministro da Fazenda.
O motivo é relativamente simples: Nelson Barbosa é um dos mentores da “nova matriz econômica” (redução artificial de juros, expansão de crédito, relativização da responsabilidade fiscal) que, em 5 anos, destruiu por completo a economia brasileira.
Ele é um claro contraponto a Joaquim Levy, economista de Chicago que queria retomar a matriz econômica brasileira criada no segundo governo FHC, e que perdurou durante a maior parte do governo de Lula.
Já restou claro agora o insucesso de Joaquim Levy como Ministro, não por conta de seus projetos, mas pelo fato deles sequer terem saído do papel, a ponto de já termos afirmado anteriormente que seu ajuste fiscal sequer chegou a sair do papel, o que se confirma pela meta fiscal de 2015, reajustada para um déficit primário de 119 bilhões, e um déficit nominal de quase 500 bilhões de reais.
Nelson Barbosa é “dilmismo” na veia: expansão monetária, aumento de crédito, redução de juros, irresponsabilidade fiscal, protecionismo. O dilmismo é dogmático e pseudo-economicista ultra-keynesiano. É um mal ainda maior que o lulismo, que é velhaco, mas pragmático, e sabedor que o controle demasiado da economia é um mal. Tendo um economista ultra-dilmista, a ordem natural das coisas é uma catástrofe completa.
Dito isso, agora vou ousar divergir um pouco da unanimidade liberal-financeira e fazer uma afirmação que pode chocar o leitor habitual do IL: o ultra-dilmismo pode funcionar no curto prazo.
A economia gera sensação de bem-estar na população na medida em que a sociedade desfruta de sensação de riqueza, mormente em virtude do aumento do consumo, seja ele sustentável ou não.
De 2010 a 2012 houve um frenesi de consumo no Brasil, em virtude do estimulo aberto promovido pelo governo Dilma. E é uma questão lógica que o consumo só é sustentável na medida em que houver produção econômica suficiente para esse fim. Caso a produção não seja suficiente, a sociedade passa a consumir poupança de anos anteriores.
Durante o período citado, foi exatamente isso que aconteceu. Redução artificial do preço do crédito, da energia, da gasolina, e dos insumos gerais gerou uma onda de consumo que destruiu por completo a poupança nacional, e como o mercado é implacável, agora vivemos um período de sobrepreços em todas as áreas justamente para que o mercado possa tentar, em algum nível, reestruturar a poupança nacional.
Esse período de sobrepreços gerou um insatisfação coletiva em virtude da redução abrupta do consumo nacional, o que, inclusive, resultou na baixíssima popularidade política da presidente Dilma. Nada mais natural.
A novidade que eu tenho para dar é que, na verdade, esses sobrepreços ainda não são suficientes, e a princípio deveriam ser ainda maiores, pelo menos a se manter o atual nível de consumo do Estado brasileiro. O déficit nominal público de quase meio trilhão de reais é evidência concreta dessa visão. Daí a preocupação de Levy em tentar reduzir o custo da máquina pública para aliviar a economia e fazer o governo também entrar no esforço de restabelecimento da poupança nacional. Esses esforços, repiso, restaram infrutíferos.
Com a queda de Levy, o recado é claro: o governo ignorará por completo o beabá da economia, e a lógica de que sem produção e poupança não há consumo, para fazer um “all in” na política ultraconsumerista.
A política ultraconsumerista, se tiver quem a banque, eleva imediatamente o bem-estar da população, e no curto prazo pode voltar a fazer a mesma coisa. Não duvido que no ano que vem a “classe média asecendente que voltou a ser pobre” esteja novamente satisfeita com o governo Dilma. Mas para isso, como destaquei, precisará que alguém banque essa farra, e esse é, hoje, o principal entrave ao ultra-dilmismo, afinal, o dinheiro acabou.
Esse entrave se torna mais forte com a perda do grau de investimento do Brasil nas agências Moody e S&P, que fez com que grandes fundos de investimento, por conta das suas regras de compliance, não pudessem mais comprar títulos da dívida pública. Na prática, agora temos menos pessoas aptas a bancar a farra ultra-dilmista, que para acontecer precisará aumentar os juros dos títulos da dívida pública de maneira agressiva. Esse, para mim, será um passo natural do Governo em 2016, caso contrário não terá recursos para bancar o que Nelson Barbosa promete.
O único cenário em que vejo o ultra-dilmismo funcionando, então, é com um super endividamento para fins de aumento do consumo, e esse arranjo não conseguirá se sustentar por muito tempo. Nossa gestão fiscal vai explodir. Para que Dilma possa se sustentar no Governo pelos próximos três anos, ela precisará endividar o país de maneira irretratável pelos próximos 300 anos. Pelo que vimos no último mês e meio, é possível que o Congresso autorize esse caos.
Em suma, acredito de verdade que Dilma, com essa política ultra-consumerista, possa sobreviver ao fim do mandato, onde será substituída por um Governo mais austero, mas que receberá um país irremediavelmente destruído. O sucesso de curto prazo de Barbosa importa, necessariamente, na destruição do Brasil em médio prazo.
Agora, aguardemos TCU, Congresso e TSE virem a impedir essa tragédia, ou, em um movimento surpreendente, que o mercado se recuse a comprar títulos da dívida pública com superjuros, mas eu não contaria com esse último caso, pois a tentação de lucrar com o Governo é muito alta.
Instituto Liberal

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