A Europa aceitou tranqüilamente a sentença do aiatolá. Em vez de isolar o Irã, o Reino Unido passou a dar proteção a Rushdie. Os demais países da comunidade se mantiveram em silêncio obsequioso. Sem atinar que não se tratava apenas de proteger um escritor perseguido. Mas de repudiar a pretensão megalômana de um padre persa, que pretendeu legislar inclusive no estrangeiro. A apostasia, ou crime, segundo os muçulmanos, havia ocorrido em Londres, com a publicação do livro. Do alto dos minaretes de Teerã, Khomeiny ordenou não só a condenação à morte - como também a execução da sentença - de Rushdie, assim como todos os implicados na publicação do livro… em território europeu ou onde quer que estes "criminosos" estivessem. Em 1991, o tradutor do livro para o japonês foi assassinado e em 1993 o editor de Rushdie na Noruega foi atacado quando saía de casa.
Na semana passada, a rainha Elizabeth II houve por bem conceder o título de "sir" a Rushdie, ao nomeá-lo cavaleiro da Coroa britânica. Protestos histéricos no Irã e Paquistão. O ministério das Relações Exteriores do Irã considerou a decisão da rainha um ato de provocação. Em Islamabad, manifestantes queimaram fotos do escritor e da rainha e o ministro dos Assuntos Religiosos do Paquistão, Mohammad Ejaz uh-Haq, ressuscitou a já esquecida fatwa, ao declarar que "se alguém comete um atentado suicida para proteger a honra do profeta Maomé, seu ato é justificado".
A covardia se repete. Leio hoje nos jornais que a ministra britânica das Relações Exteriores, Margaret Beckett, declarou que Grã-Bretanha lamenta a ofensa causada pela concessão do título ao escritor Salman Rushdie, o que se deveu a seus méritos literários. No fundo, a Coroa está pedindo desculpas a uma súcia de fanáticos terroristas, por ter reconhecido o valor literário de um de seus súditos.
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