
Quando Dilma assumiu a presidência, a expectativa de muitos brasileiros era de que teríamos o melhor governo pós-redemocratização. Afinal de contas, o “criador” dera luz a uma excelente administradora, a mãe do PAC, a “gerentona” que tudo resolve e, sobretudo, a fiadora de uma mudança em curso na política macroeconômica. Era do que precisávamos, comemorava Lulaenstein.
O iniciozinho do primeiro mandato parecia alvissareiro, pois a nova presidente quis mostrar independência e garantir que não era o “poste” que apregoavam os irônicos adversários. Comandou mudanças na equipe deixada por Lula, sugerindo, inclusive, uma faxina moral. Muitos petistas juravam mãe-morta-de-pé-junto que os mensalões da vida eram coisa do passado, pois, com Dilma, “o buraco é mais embaixo”.
Entretanto, como diz a famosa frase do marqueteiro americano, James Carville, “é a economia, idiota”, a situação começou a se desvirtuar em meados de 2011, quando o Banco Central do Brasil inflexionou a política monetária, com uma queda surpreendente da taxa SELIC. Naquele momento, o BC botou uma pulga atrás da orelha do mercado, ao sugerir que era necessário mudar o mix de políticas de combate à inflação, usando mais intensivamente as chamadas medidas macroprudenciais. Ao mesmo tempo, a equipe econômica (Mantega e Augustin) dava de ombros para a rigidez fiscal, argumentando que o ajuste anticíclico de Lula havia sido bem sucedido e vinha para ficar. Mas não foi só isso…
Enquanto a economia era aquecida pelo lado da demanda, Dilma passa a mexer em contratos e em marcos regulatórios, além de interferir em taxas de retornos de projetos, trazendo um novo ingrediente até então não experimentado: a incerteza jurisdicional. Os empresários ficam ressabiados com as mudanças impostas em setores fundamentais, como energia, afugentando-os de participarem de novos projetos de infraestrutura. Tal postura vai reduzindo, em minha visão, o nosso PIB potencial para algo em torno de 1,5-2,0% ao ano. Assim, qualquer crescimento pouco mais robusto trará (como trouxe) inflação. Mas não foi só isso…
A combinação de politicas expansionistas, aliada a uma taxa de câmbio valorizada, faz retornar o déficit em transações correntes do balanço de pagamentos. Dessa forma, passamos a conviver com uma tríade mortal: desajuste fiscal, inflação no teto da meta e contas externas deterioradas (sem contar que a moeda apreciada tirou competitividade da indústria). Mesmo diante desse quadro adverso, Dilma se reelege em 2014, numa eleição onde o marketing petista nos vendeu um país de filme da Disney (era Frozen).
Agora, quando todas as verdades vieram à tona e a economia mostra sua real face tenebrosa, Lulaenstein diz estar de “saco cheio”, reclama dos que criticam Dilma e indica que vai viajar pelo país, para ouvir as aflições de seus compatriotas. O fato é que as coisas não andam boas para seu lado. Flertou com a oposição para dialogar sobre o possível impeachment de Dilma, que, no entanto, lhe fechou as portas. Viu seu antigo fiel escudeiro, José Dirceu, ser preso novamente, em mais uma fase da Lava-Jato.
O problema é que Lula, se quiser concorrer com reais chances de vencer em 2018, necessitará se distanciar de Dilma. Mas como fazer? Em a alquimia não mais funcionando, precisará se transformar no mágico Lulafield (lembrando que Copper é cobre; terceiro lugar). Conseguirá?Let him go!
Alexandre Espirito Santo
Economista e Professor do IBMEC-RJ
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