domingo, 5 de julho de 2015

Caio Blinder- A vitória de Pirro e outras metáforas gregas

O consolo para a gente escrever sobre a inesgotável crise grega é a inesgotável fonte de metáforas gregas. O Não teve uma vitória avassaladora no referendo, o greferendo tecnicamente sobre as condições para o socorro do país (referendo confuso), mas que, no final das conta,s foi sobre a própria permanência da Grécia na zona do euro e eventualmente na União Europeia.
Vitória de Pirro para o governo do primeiro-ministro Alexis Tsipras. Ele calcula que sai mais forte do referendo para negociar com os europeus, que depende da hora são chamados de nazistas (traduza-se Angela Merkel) ou terroristas por ele e seu ministro das Finanças Yanis Varoufakis. Em outras horas, o tom é conciliatório. Qual será o tom ao longo de uma semana que promete ser muito tumultuada?
Com o Não não é exagero vislumbrar o colapso da economia grega a curto prazo. O que farão os europeus para acalmar as coisas? Concessões europeias aos gregos abrem uma caixa de Pandora. Se os europeus concedem para a Grécia e depois? Não estamos falando apenas da caixa de Pandora econômica, mas política.
Tsipras arrota que o voto foi uma prova de democracia e que os burocratas europeus precisam engolir. Sim, podem engolir e eventualmente vomitar. A Grécia é berço da democracia e o N ão foi um berreiro lá no berço, um choro desesperado de um país quebrado economicamente e alquebrado emocionalmente. Com 25% de desempregados, o voto não é exatamente cerebral, é uma catarse.
Mas, a Europa também é democrática. Tsipras se acha dono de um mandato, mas e os outros países da zona do euro? Seus dirigentes também têm mandatos democráticos, respondendo a Parlamentos e a eleitores, que estão cheios das artimanhas, subterfúgios e chororô dos gregos, embora Tsipras tenha apoio de partidos e grupelhos extremistas na Europa, de esquerda e de direita.
Existe um ritmo europeu para negociar e obviamente é burocrático e cheio de regras. Afinal, a zona do euro e a mais ampla União Europeia são compostas por 19 e 28 países, respectivamente. Democracia é um processo penoso, mais do que um voto de protesto, um berro de desespero lá do berço da democracia.
A vitória do Não foi avassaladora. A leitura instântanea é que aumenta de forma avassaladora a probabilidade de saída da Grécia da zona do euro. Esta á a lógica, mas ainda existe um cálculo sobre o custo sobre a saída grega do clube e a preocupação de que não seja acidental ou traumática.
Não sabemos como irá terminar esta odisseia.

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