Branco de esperança: o grito de socorro da Venezuela
Normalmente, a cor verde é associada à esperança. Neste sábado, dia 30 de maio, coube ao branco da paz cumprir o papel de representá-la, tomando as ruas da Venezuela. Preso desde fevereiro de 2014, o líder da oposição, Leopoldo Lopez, do partido Vontade Popular, convocou os venezuelanos a irem às ruas para protestar pacificamente, pedindo a marcação de eleições limpas para o Legislativo (com a presença de observadores da OEA e da União Europeia), o fim das violentas repressões que já vitimaram tantas pessoas sob o regime tirânico e bolivariano de Nicolás Maduro, e a libertação do próprio Lopez e de Antonio Ledezma, prefeito de Caracas. Há outros presos políticos, em um total de 70, como o ex-prefeito de Sán Cristóbal, Daniel Ceballos, que, assim como Leopoldo, anunciou uma greve de fome. A oposição engrossou o discurso e conseguiu reunir cidadãos indignados, trajados de branco, em 36 cidades do país e 12 no exterior – inclusive nos Estados Unidos, onde houve uma marcha em Miami em solidariedade ao suplício da nação latino-americana. O principal ponto de aglutinação foi a capital Caracas, onde se reuniram cerca de três mil pessoas.
A Rádio França Internacional sintetizou a importância das eleições que a oposição deseja: elas podem enfim alterar a composição de maioria chavista na Assembleia Nacional. Por isso, garantir a transparência do pleito é tão importante para o propósito de resgatar o país-irmão das garras do regime socialista autoritário e assassino, herdado da infame “Revolução Bolivariana” de Hugo Chaves e seu Partido Socialista Unido. Alguns aspectos dessa situação toda, diante das inspiradoras e belas cenas do último sábado, nos chamam particularmente a atenção.
O primeiro é a valentia da oposição venezuelana, contrastando com a postura típica das oposições tupiniquins. Vale notar que o Vontade Popular é considerado um partido socialdemocrata, de centro-esquerda, tal como se compreende, desde o nome – caso não sejamos alienados petistas –, o nosso PSDB. No entanto, seus líderes se dispuseram a ir às ruas, a gritar, a oferecer “a cara à tapa”, se entregaram para o suplício e estão indo ao mundo para tentar fazer as vozes sofridas de seu povo serem ouvidas. Pelo exemplo de Lopez e seus companheiros, incluindo sua esposa Lilian Tintori – com parte ativa, jamais se ocultando por trás dos holofotes -, se vê que a inércia da nossa oposição não passa tanto pelos princípios que abraça, já que mesmo uma oposição não explicitamente liberal clássica ou conservadora pode apresentar mais pró-atividade e bravura na hora de enfrentar uma ameaça real às instituições e à ordem democrática. Embora não sejamos uma Venezuela, está mais do que claro que o nosso Partido dos Trabalhadores também tem representado um empecilho dessa natureza.
O segundo aspecto que notamos com tristeza é a discrição quase criminosa com que a nossa imprensa tratou o acontecimento – aliás, na verdade, a discrição criminosa com que vem tratando, há não pouco tempo, a degradação do sistema democrático na Venezuela. O principal telejornal da grande emissora TV Globo, o Jornal Nacional, exibiu uma reportagem de poucos minutos, sem ter sequer apresentado o assunto na “escalada” – em jargão jornalístico, a série de informes rápidos, veiculados no início da transmissão, dos principais temas a serem abordados naquela edição. Particularmente, não acreditamos que haja muito mais assuntos, pelo menos no noticiário internacional, que nos interessem mais diretamente. Não interessam, é verdade, ao nosso governo. E aí vem o terceiro aspecto que procuramos destacar.
Mais uma vez, como já havia feito em sua visita ao Brasil junto à esposa de Ledezma, Mitzy Capriles, no começo do mês, Tintori reforçou seu pedido de ajuda às presidentes mulheres da América Latina: Dilma Rousseff, do Brasil, Cristina Kirchner, da Argentina, e Michelle Bachelet, do Chile. Suplicou novamente que elas exercessem influência e oposição corajosa aos desmandos do tiranete que se encastelou em uma nação vizinha e irmã. Perda de tempo. Quando as duas venezuelanas estiveram no Brasil, Dilma já havia respondido, ao não as receber. A base governista também, ao dar destaque à visita simultânea de um porta-voz de Maduro, Tarek William Saab.
Essa posição vergonhosa deixa muito claro que lugar o nosso governo ocupa no esquema de poder do continente. Os governos esquerdistas e populistas da América Latina, com seu projeto de integração fortalecido desde a sua reunião no chamado Foro de São Paulo, em 1990, estão articulados e, mesmo com essa ou aquela alfinetada para manter as necessárias aparências, se apoiam mutuamente e encobrem em silêncio os absurdos perpetrados pelos seus parceiros. Continuamos, na figura de nosso governo, a reconhecer legitimidade à verdadeira ditadura de Maduro, em vez de oferecer nosso apoio em alto e bom som aos guerreiros da democracia que tentam livrar sua pátria das suas garras.
Realcemos, entretanto, o lado positivo; a Venezuela não está dormindo. Em 15 de março e 12 de abril, os brasileiros também deixaram um forte recado de repúdio à “cleptocracia” socialista e populista estabelecida por estas bandas. Dilma, que hoje alega não recear o impeachment – tendo um requerimento feito pelos movimentos de rua sob análise do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e uma ação penal protocolada por políticos da oposição, sob análise do procurador-geral da República Rodrigo Janot – e critica os ataques que vem recebendo, chegando até a elogiar o PCdoB por entender as “prioridades do país” (??), não consegue reverter sua exponencial queda de popularidade. No entanto, o fervor dos brasileiros precisa ser reaquecido, para que consigamos colapsar o esquema nefasto dos inimigos da liberdade. Uma integração legítima com o grito de socorro dos nossos irmãos venezuelanos, manifestando-lhes a solidariedade e sincronizando seus reclames com os nossos, pode ser um ingrediente útil nessa árdua batalha que nossa geração precisa travar.
Lucas Berlanza
Acadêmico de Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, na UFRJ, e colunista do Instituto Liberal. Estagiou por dois anos na assessoria de imprensa da AGETRANSP-RJ. Sambista, escreveu sobre o Carnaval carioca para uma revista de cultura e entretenimento. Participante convidado ocasional de programas na Rádio Rio de Janeiro.
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