quarta-feira, 3 de junho de 2015

A ameaça do desemprego: uma espada na cabeça do trabalhador brasileiro

A taxa de desemprego no Brasil atingiu 8% no trimestre encerrado em abril, informa o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira. Trata-se do maior nível registrado para o período na série histórica iniciada em 2012. Em relação ao trimestre imediatamente anterior terminado em janeiro, quando bateu a marca de 6,8%, houve um aumento de 1,2 ponto porcentual. Segundo o instituto, 1,3 milhões de pessoas entraram na fila do desemprego entre os dois intervalos verificados.
Em relação ao mesmo trimestre do ano passado, registrou-se uma alta de 0,9 ponto porcentual. No comparativo com todos os trimestres, este foi o maior porcentual verificado desde janeiro a março de 2013, quando a taxa alcançou o mesmo valor, de 8%.
Segundo o IBGE, o número total de desempregados no período somou 8 milhões de pessoas, 985.000 a mais do que o contabilizado no mesmo intervalo de 2014.
Já a taxa de ocupação caiu no trimestre encerrado em abril em comparação com o trimestre terminado em janeiro, de 56,7% para 56,3%. Isso siginifica um contingente de 511.000 trabalhadores a menos.
Especialistas avaliam que o mercado de trabalho está absorvendo os efeitos da desaceleração da economia brasileira, que encolheu 0,2% no primeiro trimestre de 2015. “Não dá para dizer que o que se vê é apenas dispensa de temporários, tem mais pessoas procurando trabalho do que em períodos anteriores. Isso é reflexo do que aconteceu no PIB. Se você não produz, não gera trabalho e não há vagas. Muitas pessoas estavam estudando e se qualificando até o ano passado. Mas com o poder de compra em queda, mais jovens e mais idosos estão voltando ao mercado de trabalho para compor renda familiar”, afirmou o coordenador do IBGE Cimar Azeredo.
Já comentei aqui algumas vezes que o desemprego iria aumentar, que era apenas questão de tempo. O baixo desemprego foi o grande trunfo político de Dilma, mas era um quadro insustentável. Em uma crise econômica como essa produzida pelo governo, a taxa de desemprego é a última variável a “acusar do golpe”. O fenômeno do baixo desemprego chegou a ser tratado como paradoxal por muitos economistas, mas não é tão difícil assim entender o que explicava o aparente paradoxo.
Com o enriquecimento da população, fruto de ventos externos favoráveis (como alta do preço das commodities que permitiram expansão do crédito), a “nova classe média” foi formada. Com mais dinheiro no bolso, essas famílias puderam colocar seus filhos na faculdade, com ajuda de financiamento estatal. Um dos membros do casal também poderia, se quisesse, trabalhar menos, ficar mais com os filhos pequenos, etc.
Como a taxa de desemprego é calculada com base apenas em quem está procurando emprego e não encontra, esse contingente que sai do mercado de trabalho acaba reduzindo a taxa final. Até mesmo a geração “nem-nem”, aquela que nem trabalha, nem estuda, surgiu nesse contexto. O Bolsa Família também pode ter sua parcela de responsabilidade, pois ninguém quer perder o benefício, e pode acabar optando pelo trabalho informal.
Por fim, as empresas deixam para o limite do insuportável a decisão de demitir, pois, no Brasil, é extremamente caro contratar, treinar e demitir. Com leis trabalhistas pouco flexíveis e com muitas regalias onerosas, o empresário se vê na delicada situação de postergar o máximo possível essa decisão. Só quando a crise severa bate à porta e não há mais saída é que as empresas demitem mesmo. É o que está começando a acontecer.
Portanto, a taxa de desemprego, que era o último pilar do discurso social petista, está agora subindo de forma mais acelerada. A “nova classe média” precisa voltar ao mercado de trabalho com mais força, pois sentiu no bolso a elevada inflação. O filho perdeu o crédito universitário. As commodities caíram de preço. Os brasileiros precisam correr atrás para compensar tudo isso, para manter o antigo padrão de vida, para enfrentar a crise criada pelo governo.
Infelizmente, essa será uma ameaça constante para muitas famílias nos próximos anos. Os trabalhadores brasileiros terão de conviver com essa espada pendurada sobre suas cabeças, cientes de que, a qualquer momento, aquela assustadora notícia poderá chegar. Não está fácil para ninguém, como dizem por aí. E vai piorar. Coloquem na conta de Dilma e do PT…
Rodrigo Constantino

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.