domingo, 3 de maio de 2015

Leandro Narloch- O discurso de Dilma e o mito dos poderes mágicos do salário mínimo



Uma frase do discurso de Dilma neste 1º de maio é particularmente equivocada:
“Em março deste ano, eu encaminhei ao Congresso nacional uma medida provisória que garante a política de valorização do salário mínimo até 2010. Por lei, vamos assegurar o poder de compra do trabalhador.”
Estabelecer o poder de compra por meio de leis? Foi mal, presidenta, mas isso é impossível. Leis para assegurar o poder de compra do trabalhador são tão eficazes quanto leis para diminuir a aceleração da gravidade.
O mais básico dos livros didáticos de economia diz que, se o salário mínimo imposto por lei subir muito mais que a produtividade do trabalhador, o resultado será desemprego principalmente dos mais jovens, menos qualificados e produtivos. É só fazer a conta: se um empregado que custa R$ 1200 produzir menos que isso, um patrão que não quer perder dinheiro irá demiti-lo.
Isso já está começando a acontecer no Brasil – e não só economistas contrários ao governo detectaram o problema. Ricardo Paes de Barros, que até o ano passado era o gerentão dos programas sociais do governo federal, diz em quase toda entrevista que está preocupado com o aumento do salário mínimo acima da produtividade. “A melhor política social hoje é conquistar ganhos de produtividade”, disse ele para a Exame. “Não dá para aumentar o salário mínimo indefinidamente.”
Claro que, para quem recebe benefícios que variam conforme o salário mínimo, o aumento sempre é uma boa notícia. Mas isso acontece em prejuízo dos trabalhadores menos produtivos, que ficam sem emprego ou ainda mais distantes do mercado formal.
Se Dilma quisesse defender o que realmente garante o poder de compra dos trabalhadores, dedicaria o discurso do 1º de Maio ao aumento de produtividade e ao crescimento econômico. Mas nesses dois quesitos o governo não tem boas notícias para anunciar.

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