quinta-feira, 14 de maio de 2015

Europa estuda cotas para imigrantes em meio a tragédia humanitária



A Comissão Europeia apresentou nesta quarta-feira (13) um plano polêmico que prevê a definição de cotas de refugiados para cada Estado-membro da União Europeia.
A ideia é tentar distribuir pelos países do bloco os imigrantes africanos que atravessam o Mediterrâneo para pedir asilo em território europeu. Hoje, a recepção a eles concentra-se em países da região costeira, como a Itália.
No ano passado, apenas cinco países da União Europeia tiveram de lidar com cerca de dois terços dos pedidos totais de asilo de imigrantes.
Segundo o presidente da comissão, Jean-Claude Juncker, o objetivo da proposta de cotas é conter as migrações, resgatar os imigrantes em dificuldades e distribuir de modo mais equitativo sua acolhida pela União Europeia.
A ideia foi imediatamente rechaçada pela ministra do Interior do Reino Unido, Theresa May, que defendeu que os imigrantes que tentam chegar à Europa pelo Mediterrâneo sejam reenviados.
“Discordo totalmente de Federica Mogherini [chefe da diplomacia da UE] quando ela diz que imigrantes interceptados no mar não podem ser enviados de volta contra sua vontade. Isso só estimula pessoas a arriscarem duas vidas”, afirmou a ministra.
Outros países, como Hungria, Eslováquia e Estônia, também já rejeitaram o plano.
O número dois da Comissão Europeia, Franz Timmermans, rebateu dizendo que a “pior coisa” seria não fazer nada diante do problema.
“Não agir agravaria a situação das pessoas em dificuldades e faria com que perdêssemos a credibilidade. Nós não podemos aceitar que famílias inteiras se afoguem no Mediterrâneo”, declarou ele.
Quem quer que diga possuir uma solução simples para esse problema complexo está enganado. Trata-se de um caso claro de dilema moral, em que mais de um valor se encontra em jogo e disputa. Valores muitas vezes incomensuráveis, o que torna o dilema insolúvel. Há apenas um trade-off aqui, ou seja, cada escolha impõe alguma perda do outro lado.
Aqueles que defendem a livre entrada de todos os africanos em fuga na Europa o fazem provavelmente do conforto de suas casas, levando em conta mais a abstração da bela ideia do que seus resultados práticos. Uma sensibilidade mal calibrada pode levar a tal romantismo, mas essas pessoas raramente consideram o que diriam se suas vizinhanças estivessem em risco.
É a velha política do NIMBY: not in my back yard! Sou totalmente a favor da existência de um prostíbulo, por exemplo, mas não venham construir um bem ao lado de minha casa! Legalização de drogas? Os libertários nem pestanejam: já! Mas uma boca de fumo na sua esquina não será nada agradável, será?
O mesmo raciocínio pode ser usado aqui, para dar tom mais realista ao debate. Milhares de imigrantes desesperados fugindo de seus países fracassados em busca de alguma segurança e chance de sobrevivência. Como não defendê-los? Mas e se todos forem parar bem na sua vizinhança, construindo favelas e guetos e sem falar uma palavra da língua local?
Esse tipo de pensamento já é visto como insensível, ou pior!, “preconceituoso”. Mas quem repete isso o faz do conforto de sua hipocrisia. No fundo, detestariam que algo assim acontecesse, e seriam os primeiros a exigir uma ação estatal para proteger seus interesses e propriedades. No olho dos outros pimenta é refresco, certo?
Dito isso, parece mesmo insensível simplesmente virar as costas para tal tragédia humanitária. O que fazer? Não tenho a resposta. Mas tenho algumas reflexões para oferecer sobre o assunto. Primeiro, o modelo de estado de bem-estar social não ajuda, pois o imigrante passa a custar caro demais para o pagador de impostos, e isso gera mais xenofobia ainda, como já expliqueiaqui.
Segundo, o multiculturalismo disseminado pelas esquerdas tampouco ajuda. Ao ignorar adireção do fluxo migratório, que por si só já diz quais culturas prosperaram e quais fracassaram, e ao incutir na cabeça dos imigrantes que eles possuem tantos direitos como aqueles que os recebem, os multiculturalistas acabam fomentando a criação desses “guetos culturais”, que produzem mais xenofobia também, e o nacionalismo como reação natural.
Londres está repleta desses guetos, muitos islâmicos, onde os habitantes simplesmente ignoram ou cospem na cultura que os abrigou. Basta ler os livros de Theodore Dalrymple para compreender a situação explosiva. Ora, se eu busco refúgio ou oportunidades em um país, parece lógico que sou eu quem deve se adaptar, não o contrário!
Como um brasileiro na Flórida – e olha que a Flórida é uma espécie de América Latina que deu certo – penso exatamente assim: não são os americanos que devem se curvar diante do “jeitinho” brasileiro ou algo do tipo, e sim nós brasileiros que devemos abraçar o império das leis e a cultura local. Os incomodados que se mudem, pois é muita arrogância chegar e achar que todos os outros é que devem se adaptar ao seu estilo de vida.
Sem esses dois fatores – o estado de bem-estar social inchado e paternalista, e o multiculturalismo – creio que a imigração em si não será o maior problema. Os Estados Unidos do século XIX foram criados na base da imigração, e se tornaram a maior potência mundial depois. Imigrantes que partem em busca de trabalho e oportunidades, sem esperar benesses estatais, e que estão conscientes de que precisam se adaptar à cultura local que os recebeu, normalmente não criarão problemas aos anfitriões, e sim mais riqueza.
Rodrigo Constantino

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