CHAMANDO
MARIA
O
copo está na mesa cheio de
aguardente. Honório vê figuras duplas nos quadros pendurados, vê também o copo
em duplicidade, talvez pensando que o conteúdo também seja duplo. Arrasta os
chinelos, bate o joelho direito no canto do sofá, mas anestesiado pelo álcool
não sente dor. Tanta cantar uma velha canção e a baba escorre, as palavras saem
tortas. Seus olhos estão em brasa, seu hálito é fétido. Agora quer comer. Chama
pela esposa Maria, que não vem. Xinga Maria de vaca velha, Maria não responde.
Não contente, começa a quebra pratos e copos, atirando-os na parece. Chama
Maria novamente, chamado que novamente não é correspondido. Derruba então a
cristaleira e quebra as cadeiras no tampo da mesa. Um alvoroço. Chama Maria de
cadela sarnenta e Maria então vem... Vem, mas não vem só, traz consigo um
porrete de aroeira e manda a borduna sem dó. O destemido cai de quatro
tastaviando à procura da porta de saída. Quer ir rumo ao deus dará. Antes de
ganhar a rua já tem duas costelas quebradas e uma orelha caída. Fora da casa
quis ficar em pé, porém uma porretada no joelho o deixou sem reação.
Entregou-se. Para não apanhar mais prometeu comprar novos móveis e utensílios
sem reclamar. E a partir deste dia chamar Maria somente de ‘meu bem.’
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