quarta-feira, 15 de abril de 2015

LEANDRO NARLOCH- Os sem-teto e o preço de morar na cidade

Pouca gente concorda com as invasões e as ideias dos sem-teto, mas é preciso admitir que os manifestantes tocam em pelo menos uma questão relevante. Por que é tão caro viver na cidade? Quem tem um apartamento numa metrópole sabe que dorme sobre pote de ouro, uma fortuna que custa alguns anos de trabalho.
A edição de semana passada da Economist dá uma resposta deliciosa a esse mistério. Morar nas grandes cidades é caro não por culpa da especulação imobiliária, da crueldade do capitalismo e dos latifundiários urbanos, mas por causa das leis de zoneamento que restringem a altura dos prédios.
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As leis de zoneamento criam uma escassez artificial de espaço nas cidades. Ao dificultar a construção, limitam a oferta de imóveis. Pela lei da oferta e demanda, quanto menos imóveis estão disponíveis, mais caros ele se tornam. Regulações do uso de solo são responsáveis por um aumento de 800% do preço dos imóveis em Londres e 300% em Paris em Milão, diz areportagem.
As restrições urbanísticas entraram até mesmo no debate sobre o aumento da desigualdade de renda. A principal tese do francês Thomas Piketty é que o retorno sobre o capital vem crescendo em relação ao retorno sobre o trabalho. Está valendo mais a pena viver de renda que do trabalho. Por que isso acontece? Para o americano Matthew Rognlie, estudante de economia de 26 anos que virou o anti-Piketty, as leis de zoneamento são um dos motivos.
Tudo que ricos proprietários de imóveis mais querem são leis que tornam sua propriedade mais rara e evitam a depreciação. Se a oferta não cresce, quem já tem imóveis se dá bem, e quem precisa comprar é obrigado a fazer uma dívida maior. O de cima sobe e o de baixo desce.
A ironia disso tudo é que o arquiteto descalço, aquela figura que defende a conservação de bairros e não suporta arranha-céus, costuma acreditar que está do lado dos sem-teto e da “democratização da moradia”. Na verdade, ele é o grande inimigo de quem sonha com a casa própria.

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