quarta-feira, 25 de março de 2015
Venezuela vendia passagens fantasmas para o "aeroterror"
Criado em 2007 como parte de um acordo bilateral entre o Irã e a Venezuela, o voo VO-3006 fez a rota Caracas-Damasco-Teerã até 2010 e era operado em conjunto pelas estatais Conviasa, venezuelana, e Iran Air, iraniana. Segundo altos funcionários chavistas ouvidos por VEJA, e que atualmente vivem exilados nos Estados Unidos, o apelido "aeroterror" deixava claro o propósito do voo: transportar dinheiro sujo ou criminosos procurados pela Interpol. Inicialmente operando com voos semanais, o aeroterror passou a ter uma regularidade quinzenal. Embora formalmente houvesse passagens à venda no site da companhia, cidadãos comuns nunca conseguiam fazer reservas.
Só quem tinha autorização governamental conseguia viajar no VO-3006. Na maioria das vezes, o avião decolava com quase todas as poltronas vazias.A rota era deficitária, mas foi mantida assim mesmo. Segundo uma planilha do Ministério das Indústrias Básicas e Mineração da Venezuela, o voo custou 45,3 milhões de dólares entre 2007 e 2009. Só o governo venezuelano torrou 36,6 milhões de dólares na operação. O faturamento com a venda de passagens, no mesmo período, foi de apenas 15 milhões de dólares.
O voo quinzenal se pagava, na realidade, com atividades ilícitas. O serviço de inteligência americano sempre suspeitou que a rota era usada para o tráfico de armas entre Teerã e Damasco e para o trânsito de militares iranianos, cuja presença cresceu significativamente na América Latina, segundo relatórios oficiais. Em 2010, o Departamento de Estado e o Departamento de Defesa dos Estados Unidos manifestaram preocupação em relação ao voo. No relatório anual sobre terrorismo, o Governo Americano afirmou que a Guarda Revolucionária do Irã usava o voo para fins militares.
Há duas semanas, uma reportagem de VEJA revelou como a Venezuela e o Irã faziam uso do aeroterror. Segundo os chavistas exilados nos Estados Unidos, os voos foram utilizados para transportar dezenas de extremistas islâmicos que precisavam viajar para o Ocidente, a partir do Irã e da Síria, sem serem percebidos. Segundo essas fontes, a embaixada da Venezuela em Damasco mantinha uma rede de fabricação e distribuição de passaportes venezuelanos autênticos que eram fornecidos para ocultar as identidades verdadeiras dos terroristas.
A operação em Damasco era comandada pelo então adido comercial Ghazi Nasseraddine. Libanês com cidadania venezuelana, Nasseraddine é um conhecido membro do Hezbollah.
Antes de ser nomeado diplomata, ele cuidava dos interesses do grupo libanês em Caracas. Nasseraddine, segundo os chavistas ouvidos por VEJA, atuava em sociedade com o então ministro do Interior e atual governador do Estado de Aragua, Tareck El Aissami, e tem contra ele um pedido de captura por parte do FBI por envolvimento com o terrorismo. El Aissami, afirmam os mesmos chavistas que denunciaram Nasseraddine ao FBI, usava o aeroterror para despachar drogas para a Síria. A cocaína produzida pelas Farc, na Colômbia, era levada para a Venezuela e depois despachada no compartimento de carga do voo VO-3006 até Damasco.
VEJA
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