quarta-feira, 11 de março de 2015

Caio Blinder-Errata Putin

Instituto Blinder & Blainder tem um batalhão de gurus para assessorá-lo (mão-de-obra escrava). Leitores perguntam: para que gurus? Ora, para nós guiar, embora nem sempre para o caminho certo. E eu respeito ainda mais um guru quando ele reconhece que pegou o caminho errado.
Ian Bremmer, presidente da consultoria de risco Eurasia, escreveu um texto muito bacana na edição corrente da revista Time. O assunto é a Rússia de Vladimir Putin e que também era de Boris Nemtsov, o líder oposicionista assassinado pertinho do Kremlin em 27 de fevereiro. Bremmer escreve que conhecia muito bem Nemtsov. O assassinato foi obra de Putin? Bremmer não acredita. Ele observa que, na verdade, é um embaraço para o nosso homem em Moscou, pois revela a sua fraqueza e não a sua força.
Nos últimos tempos, Putin queria projetar “a magnanimidade” que acompanha o poder absoluto e assim libertou adversários da prisão como o oligarca-dissidente Mikhail Khodorkovsky e as ativistas do Pussy Riot. Putin tem culpa no cartório na morte de Nemtsov em outros níveis, conforme Bremmer. Ele criou um sistema no qual é possível o assassinato de um importante líder de oposição. No alerta de Bremmer, o cenário ficará ainda mais sombrio.
E este alerta de Bremmer contrasta com as expectativas que ele tinha sobre Putin quando o autocrata assumiu o poder em 2000. Bremmer escreve que ele e Nemstov (que chegara a fazer parte do jogo sucessório) estavam divididos. Não tinham dúvidas que Putin não era um democrata.
Mas, ele ascendera em um cenário de caos depois das reformas econômicas e políticas da era Gorbachev. Na gestão Ieltsin, o quadro era de colapso (Nemtsov foi vice-primeiro-ministro nos dias de caos). Na avaliação de Bremmer e de Nemtsov, Putin não iria seguir as pegadas de Gorbachev, mas tampouco tentaria restaurar o império soviético.
Bremmer e Nemtsov acreditavam que a meta de Putin seria melhorar a economia e pela lógica isso pavimentaria o caminho para reformas políticas. Melhor, portanto, com Putin. A dupla Bremmer/Nemtsov escreveu um artigo no New York Times em janeiro de 2000, cravando Putin como “a melhor aposta da Rússia”.
A economia, de fato, melhorou, mas fruto do boom de gás e petróleo. Não houve diversificação econômica. A mesma coisa na política. Putin consolidou o sistema do homem-forte no poder, espremendo cada vez a oposição e sugando as instituições (que já não eram grande coisa) em benefício próprio.
Agora, é o pior dos mundos. A farra econômica acabou e Putin apela para um nacionalismo cada vez mais perigoso e intimidador. O Ocidente e seus simpatizantes dentro da Rússia são demonizados.
Bremmer arremata o seu texto, dizendo que a morte de Boris Nemtsov confirma o erro de sua aposta em Putin. Quanto a mim, mantenho a aposta no guru Bremmer.

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