Velho guerrilheiro que é eleito presidente e desfila com seu também velho fusquinha e fica célebre pelo seu desprendimento material. Um índio que governa seu país já por três mandatos consecutivos e que combate o imperialismo do norte com o pó retirado da folha de coca. Uma viúva eternamente de negro, cercada de assessores jovens e enrolada na morte do procurador que a acusava de proteger terroristas iranianos. Um antiquado ditador do Caribe, campeão mundial de ditadura, com 56 anos de poder absoluto.
No Brasil também tivemos esse realismo fantástico. Dias Gomes é seu mais conhecido representante, com O Bem-Amado - entre outras tantas peças que se inspiraram na realidade política do país de Macunaíma. Odorico Paraguaçu virou o protótipo satírico do político tupiniquim. O personagem de Paulo Gracindo tem em sua essência um pouco de tudo e além do retrato de muitos prefeitos, vereadores, governadores, deputados, senadores e presidentes. Todos são mágicos, porque ganharam mandatos de milhões de eleitores. Depois de 15 anos de ditadura Vargas, elegemos presidente um ministro de Vargas e logo depois trouxemos de volta o ex-ditador, pelo voto.
Todos fornecem ingredientes para um folhetim de realismo fantástico, cada um com sua característica: bebida, dinheiro, mulher, poder, mentira, ambição, traição, morte - às vezes tudo misturado como se fosse uma grande chanchada que debocha não apenas dos personagens, mas, na verdade, dos que os elegem. Mas apenas a eleição não explica tudo. No livro “Ponerologia - Psicopatas no Poder”, do polonês Andrew Lobaczewiski, o autor fala em patocracia(do grego patos, doença), um sistema de governo doente. Fala de como líderes, com máscara de sanidade, dominam milhões, pondo a funcionar as características do psicopata: envolvente, gentil, atraente, mitômano, com talentos teatrais e sempre uma desculpa pronta.
Não sentem culpa quando flagrados nem compaixão pelos que prejudicam. Tipos com anomalias de caráter, encontram terreno fértil em tempos de histeria coletiva, imposta por modismos e supostos valores estéticos, esgotamento de valores morais e egoísmo alienante. Aí é possível compreender porque elegemos um ditador e outras figuras grotescas, e porque depois dos Anões do Orçamento tudo se repete no Mensalão e se repete de novo no Petrolão.
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