quinta-feira, 26 de março de 2015

Adelante, Felipe II

Nicolás Maduro nunca surpreende. Ele foi à carga com calibre bolivariano para denunciar Felipe González, o venerado ex-primeiro-ministro socialista da Espanha, por sua decisão de defender os dois mais importantes presos políticos na Venezuela. Maduro disse que González não passa de um “lobista” que conspira contra a revolução bolivariana.
Como eu já disse aqui, um dos motivos para a “ingerência” do ex-dirigente espanhol na Venezuela para defender Leopoldo López e Antonio Ledezma, detidos em prisão militar, é a ausência de uma firme resposta latino-americana diante da deterioração dos direitos humanos no país desgovernado pelo chavismo.
Felipe González, que resistiu à ditadura franquista e participou da transição democrática na Espanha, conhece a triste história latino-americana. Hoje é esta pouca vergonha bolivariana. Ontem eram as ditaduras militares de direita. Em  agosto de 1977, o mesmo González, aos 35 anos, secretário-geral do Partido Socialista espanhol, desembarcou em Santiago, quando o Chile estava nas mãos do ditador Augusto Pinochet.
Na companhia de três jornalistas, González logo recebeu escolta policial. No entanto, teve liberdade para se movimentar nos três dias de sua visita. Ele esteve com famílias de “desaparecidos” e pôde visitar na prisão os dois socialistas chilenos, Erick Schnake e Carlos Lazo, os quais defendia, e que tinham sido condenados por sedição e traição pelos tribunais da ditadura militar. González foi inclusive recebido pela ministra da Justiça e pelo presidente do Supremo Tribunal. Partiu do Chile sem problemas.
O golpe militar no Chile ocorrera quatro anos antes. Os partidos continuavam proscritos e Pinochet tinha controle absoluto. Permitir a vinda de González era uma forma de suavizar a imagem da ditadura. Dois meses antes da viagem de González, a Espanha realizara suas primeiras eleições depois da morte do ditador Francisco Franco e os conservadores venceram com Adolfo Suárez. No entanto, González era o líder da oposição, respeitado, não apenas na Espanha, mas no exterior. A transição na Espanha era motivo de esperança em países latino-americanas que viviam sob ditadura.
Meses depois da visita de Felipe González, a ditadura chilena libertou vários presos políticos, inclusive os defendidos pelo político espanhol. Estão aí as li ções da história para o chavista Nicolás Maduro.

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