domingo, 22 de fevereiro de 2015

IL- Em defesa da Beija-Flor

João Luiz Maud
A Beija-Flor é o Judas da hora.  Desde quarta feira, quando foi divulgado o resultado dos desfiles das escolas de samba no Rio de Janeiro, a imprensa tupiniquim não parou de malhar a Escola de Nilópolis, por conta de uma suposta falta de ética (alguns alegam até mesmo ilegalidade) pelo patrocínio de 10 milhões de reais recebido da ditadura sanguinária da Guiné Equatorial.
Data máxima vênia, como diriam os causídicos, acho que alguns estão tratando o assunto (notadamente os opinantes esquerdistas) com enorme carga de hipocrisia.  A Guiné Equatorial é um país que mantém sólidas relações diplomáticas e comerciais com o Estado brasileiro – entidade constitucionalmente encarregada de tratar das nossas relações exteriores.
Para se ter uma idéia de quão estreitas são essas relações, somente nos últimos cinco anosdois presidentes brasileiros visitaram aquele país oficialmente, enquanto Obiang – o cruel ditador – também aqui esteve pelo menos uma vez, em visita oficial. Lula voou para lá, pela primeira vez, em 2010, quando assinou acordos de cooperação e perdoou 80% da dívida da Guiné com o Brasil.  Posteriormente, já em 2013, Lula voltou lá, desta vez como “caixeiro viajante”, em missão oficial, acompanhado de diversos empresários tupiniquins, interessados em fazer negócios naquele país.
Sabe-se de alguns projetos em andamento na Guiné Equatorial, operados por empresas brasileiras, e de pelo menos um financiado pelo BNDES, com dinheiro dos pagadores de impostos de Pindorama.  O Itamarati, órgão de Estado encarregado das políticas com o exterior, tem uma página na internet somente para descrever os profícuos laços diplomáticos e comerciais com aquele país africano, cuja relação data de 1974 – mais de 40 anos, portanto. Além disso, desde 2006, o Brasil mantém uma embaixada na sua capital, Malabo, e, desde 2010, estão suspensas as exigências de visto prévio para viajantes entre os dois países, acordo este que o Brasil não tem, por exemplo, com EUA, China e México, entre outros países.
Salvo algumas vozes dissonantes, nunca a mídia pátria fez qualquer crítica mais contundente ao fato de termos relações, digamos, tão estreitas com a ditadura do notório senhor Obiang –cujo filho tem contra si até mesmo uma ordem de prisão expedida na França.
Pelo contrário.  Nunca ouvi ninguém criticar as empresas que lá estão fazendo obras faz tempo.  Por quê então todo esse alarido com o patrocínio recebido pela Beija-Flor?  A escola nada mais fez do que uma transação comercial com um “país amigo”.  Sim, patrocínios são transações comerciais como outras quaisquer.  Sim, a Guiné Equatorial, queiram ou não, deve ser considerada “país amigo”, já que o Estado brasileiro mantém sólidas relações diplomáticas e comerciais com ele.
Por outro lado, só para não dizerem que não falei de flores, digo, de Cuba, empresas e governo tupiniquins têm feito obras vultuosas financiadas pelo indefectível BNDES (vide o porto de Mariel) e negócios milionários (mais médicos) com a não menos sanguinária ditadura castrista, sem que se tenha visto, exceto da parte de uns poucos opinantes da “direita neoliberal golpista”, qualquer crítica ou impugnação a respeito.
Ora, vamos ser coerentes.  Ou criticamos todo mundo, ou não criticamos ninguém.  Ademais, a Beija-Flor, pelo menos, fez bom uso do dinheiro recebido e venceu o carnaval carioca com um desfile quase irretocável.

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