quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

CAIO BLINDER- DESALENTO EM CARACAS

Esta semana, eu já trouxe a lanterninha de Francisco Toro, em um esforço para iluminar o caminho das trevas na Venezuela. Toro fundou o site Caracas Chronicles (a rigor, uma coleção de blogs). O projeto agora tem à frente Juan Cristóbal Nagel, que publicou suas reflexões no site da revista americana Foreign Policy.
Para ele, a prisão na semana passada do prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, marca um “novo e perigoso divisor de águas” na Venezuela. A polarização no país causada pelo tratamento truculento infligido pelo chavismo à oposição torna praticamente impossível que os próprios venezuelanos enfrentem sozinhos os desafios nacionais.
Nagel, porém, constata que não parecem existir mais “intermediários honestos” para conduzir a crise rumo a uma solução pacífica.
Com a deterioração econômica e a escalada da violência e da repressão, não dá para vislumbrar uma saída. Nagel escreve que a conversa em Caracas não é se haverá um golpe, mas quando. E neste caso, seria um tremor interno do chavismo.
O ideal para conter a espiral de violência seria o diálogo, um com resultados tangíveis. O chavismo precisa conseguir algum tipo de arranjo de partilha de poder com a oposição. Isto implica a reformulação de instituições aparelhadas como os sistemas judicial e eleitoral.
Este cenário de diálogo se mostra cada vez mais distante. Alguns setores moderados do chavismo acenaram com a ideia, mas é tarde, é pouco. Tal caminho exige árbitros independentes e de confiança. Aqui estamos falando de governos estrangeiros, estamos falando do Brasil.
No entanto, como lembra Nagel, a reação internacional à recente onda de repressão doméstica tem sido frouxa ou de mera cumplicidade com o chavismo. A oposição não confia em governos estrangeiros, em particular os latino-americanos.
Uma nova espiral de violência ganha força desde a morte de um adolescente de 14 anos durante protestos na terça-feira na cidade de San Cristóbal, no Estado de Táchira. Uma solução pacífica para a crise da Venezuela é uma perspectiva cada mais exígua.
Os venezuelanos, é claro, vão pagar por isso e por extensão uma vizinhança de postura frouxa e míope.

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