sábado, 10 de janeiro de 2015

VELHICE


Artigo, Marcelo Blaya Perez, Zero Hora - Velhices boas e más


Acabo de ver Alive Inside _ A story of music and memory, filme de 2014 que mostra a tragédia de 1,6 milhão de pessoas confinadas em 16 mil “lares de idosos” nos Estados Unidos.
Poucas pessoas optam por viver nesses lares.O mais comum são idosas/os que, incapazes de viver com seus recursos, rejeitados pelas famílias, são coagidos a viver nesses lares.
Uma pessoa arrancada de seu mundo e confinada num mundo estranho tem suas funções somáticas e psicológicas agravadas. Dessas, a mais danificada é a memória, desligando a pessoa de seu passado, base de sua personalidade. Umas retraem-se, caladas, olhos fechados, isolam-se. Outras revoltam-se, buscam formas de escapar. Medicadas com drogas, se aquietam.
O filme mostra como a música ressuscita esses “mortos” e pode ajudá-los a voltar a serem velhos normais.
Eu sugiro mais uma razão capaz de explicar o fato. Uma das pessoas está no lar há oito anos sem visitas dos familiares, retraída. Ao ser abordada para receber o iPod com suas músicas preferidas, tem a visita que deve ter sonhado receber nesses oito anos. Além da atenção recebida, pode ouvir músicas que a levam de volta a um passado feliz e esquecido.
Estou a três meses de completar 90 anos e vivo num sítio isolado, entre Belém Novo e Lami, na beira do Guaíba, 27 hectares, a maioria mata nativa. Moram comigo quatro cadelas pastoras alemãs e uma família de caseiros. Não estou confinado, pois foi minha escolha e sempre que preciso pego o Subaru e saio. Mas prefiro ficar com os bichos. Aos domingos filhas e netas vêm almoçar, o que é muito bom.
A morte não me assusta, mas não facilito sua chegada. Três práticas ajudam a envelhecer sem decrepitude. A alimentação é basicamente de cereais, frutas e verduras. Diariamente sauna, exercícios físicos e natação na piscina. E, graças ao celular e à internet, tenho os contatos verbais que as cadelas não podem dar-me. O lazer é com leituras e filmes na Sky ou na Netflix.

“O segredo de uma boa velhice não é outra coisa que um pacto honesto com a solidão.” Gabriel García Márquez: Cem Anos de Solidão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.