terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Caio Blinder- A geopolítica do petróleo (Venezuela)

Nos últimos 18 meses, os EUA superaram a Arábia Saudita como o maior produtor mundial de petróleo. País emergente. A OPEP é uma sombra do que  já foi. Basta ver a decisão de não cortar a produção na reunião da semana passada. Cartel decadente. Novas descobertas do recurso, novas tecnologias de extração e menor demanda global levaram os preços do petróleo a começar a semana no seu nível mais baixo em cinco anos (embora tenha ocorrido uma recuperação após as quedas acentuadas na semana passada).
Há vencedores e perdedores neste novo choque de petróleo, com o preço do barril na faixa dos 70 dólares. Vamos falar de um grande perdedor: a Venezuela (em outras colunas, eu pretendo falar de Irã e obviamente da Rússia). Nenhum surpresa que o regime chavista tivesse gritado tão alto (e fracassado) na reunião da OPEP por cortes na produção. Exportadores como a Arábia Saudita querem testar até onde os preços podem baixar para tornar não competitivos outras fontes ou métodos não convencionais de extração, como xisto e fraturação hidráulica.
A Venezuela depende do petróleo para 65% dos gastos governamentais (o lubrificante do projeto assistencialista). Petróleo representa 95% das exportações e 25% do PIB. No entanto, a produção venezuelana teve queda de 1/3 nos últimos 15 anos, fruto (podre) de má administração, aparelhamento da estatal petrolífera, uso excessivo da receita para fins político-sociais e o mero caos no país. Para agravar, acabou a mamata do preço do barril a 100 dólares.
Daniel Yergin, um dos gurus globais em petróleo, salienta que a Venezuela será o perdedor número 1 caso seja aprovado o oleoduto Keystone XL, que irá transportar petróleo do Canadá para as refinarias do golfo do México, e assim deslocando o país chavista dos EUA, seu maior mercado comprador.
Para dar uma medida da situação desoladora da Venezuela, o FMI calculou em outubro os preços do barril de petróleo que cada produtor precisa para equilibrar o orçamento. Países como o Kuwait aguentam o tranco a 70 dólares. No outro lado: Irã a US$ 136 e Venezuela e Nigéria a US$ 120. A Rússia segura a barra com o preço do barril a US$ 101.
O quadro geoestratégico balança a Venezuela e o país ainda por cima sofre com o Custo Maduro, ou seja, a incapacidade do atual presidente  (ex-motorista de ônibus) para guiar o país com a maestria caudilhesca de Hugo Chávez. O cenário é de mais caos fiscal ou social (um ou outro, quem sabem ambos).
Afinal, a queda dos preços do petróleo deve forçar o governo a desvalorizar ainda mais a moeda (são três cotações do bolivar), cortar importações, acabar a fantasia de gasolina quase gratuita e moderar a farra do Bolsa-Venezuela (neste último caso, Maduro esbraveja ao estilo “no pasarán” que não irá acontecer).
Com este novo choque do petróleo, a Venezuela deverá quebrar. O modelo chavista é insustentável. Quem sabe consiga alguma bóia de salvação temporária com a China. Pequim suavizou os termos de pagamento de quase US$ 50 bilhões de empréstimos concedidos a Caracas desde 2007 e Madurou anunciou que seu ministro das Finanças, Rodolfo Marco, irá à China para descolar mais dinheiro e projetos.
O problema da China foi ter investido tanto nos “negócios da Venezuela” (no petróleo e nos empréstimos), que precisa garantir um retorno e um  mínimo de estabilidade política no país.
Isto aí, uma sobrevida. De resto, o Socialismo do Século 21 de Hugo Chávez não terá longa vida.

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