quinta-feira, 23 de outubro de 2014

O que vem por aí se Dilma for reeleita…

Uma bomba-relógio foi armada na economia. O jornalista Carlos Alberto Sardenberg fez um bom resumo em sua coluna de hoje dos últimos 20 anos do país, mostrando os avanços da era FHC e do primeiro mandato de Lula, que foram abandonados em seu segundo mandato e no primeiro – e último, espera-se – de Dilma. Diz ele:
Depois da crise de 2008/9, o governo Lula começou a desmontagem do modelo, acelerada na gestão de Dilma Rousseff. As leis básicas não foram alteradas, mas as práticas, sim. O regime de metas de inflação está aí, mas a meta não é cumprida faz tempo.
A Lei de Responsabilidade fiscal está aí, mas o governo manobra as contas de modo a ampliar gastos — e dívidas. O governo empurra os bancos públicos para operações duvidosas e que logo, logo, apresentarão problemas. Práticas pré-Real.
[...]
O desemprego é baixo em consequência daquelas mudanças que foram se consolidando. E não é uma proeza brasileira. Neste momento, o Brasil não gera empregos, a população trabalhando é estável faz algum tempo, segundo dados do IBGE. E, se continuar sem crescimento econômico, vai gerar desemprego.
E a taxa de desemprego nos outros países? Na casa dos 6%, pouco mais (Índia, 8,8%; Colômbia, 8,9%), pouco menos (México, 4,9%; Indonésia, 5,7%).
Resumão: o Brasil tem inflação maior, juros maiores, crescimento menor e desemprego igual, mas com tendência de alta. A receita é óbvia.
A receita é óbvia: mudança. Mas não parece tão óbvia assim para metade dos eleitores. Ou eles não ligam para a crise que vem por aí, pois estão de olho apenas nas benesses estatais. Independentemente do motivo, o fato não muda: as conquistas dos últimos vinte anos estão em xeque, sob grande risco, se Dilma vencer.
editorial do GLOBO de hoje também derrubou uma falácia da campanha de Dilma, que vem repetindo que o problema é uma tal “crise internacional” e que as receitas propostas pelo candidato de oposição, Aécio Neves, levariam a um aumento do desemprego. Diz:
Eleições costumam patrocinar falácias. Esta é uma. Ora, nada na teoria econômica sustenta que mais inflação permite maior crescimento e, por decorrência, mais empregos, gerados de forma sustentada — um dos dogmas professados pelos “desenvolvimentistas”, “escola” da qual a economista Dilma faz parte.
[...]
No próprio continente, as autoridades de Brasília podem encontrar casos de economias com taxas de crescimento elevadas, em comparação com o atual padrão brasileiro, e inflação bem mais baixa.
Chile, Colômbia, Peru e México, não por acaso países mais abertos ao exterior, reunidos na Aliança do Pacífico, estão neste caso: o Chile, com inflação de 5%, em setembro, deve crescer 4% este ano; México, com pouco mais de 4%, expansão algo abaixo de 3%; Colômbia, inflação de 2,8%, crescimento de 4,7%; Peru, 2,7%, expansão de 4%.
Comparados à virtual estagnação brasileira e à inflação de 6,7%, são ilhas de prosperidade, e o desmentido real de argumentos eleitoreiros.
A grave crise econômica à frente, no caso de reeleição de Dilma, não é o único problema, apesar de não ser nada trivial. Há o problema político, com a perda de legitimidade de uma eleição calcada no discurso do ódio, no terrorismo eleitoral, na compra escancarada de votos, no abuso da máquina estatal. Quem fala bem disso é Demétrio Magnoli em sua coluna de hoje no mesmo jornal:
Aécio Neves, a esperança de quem quer mudança
Se, neste domingo, Dilma Rousseff obtiver a reeleição, estará instalado um governo de crise. A candidata terá sido eleita por metade do país, contra a vontade do eleitorado urbano do Centro-Sul e derrotando as aspirações de mudança que detonaram as manifestações de junho de 2013. Num cenário de acelerada deterioração econômica, o governo será compelido a restringir o crédito e o consumo, desonrando a nota promissória assinada pela candidata durante a campanha eleitoral. Refém da máquina do lulopetismo, a presidente que fracassou em seu primeiro mandato precisará inclinar-se a uma série de exigências políticas do PT. Então, lembraremos com saudade dos anos medíocres de Dilma 1.
[...]
Só o PT e seus patrióticos aliados, entre os quais despontam as mais nefastas figuras da República, têm o direito de conduzir o país — eis a mensagem absurda veiculada pela campanha oficial. Dilma 2 seria o resultado do triunfo do medo, isto é, de uma inércia sustentada pela força esmagadora do aparelho de Estado. A presidente teria o cetro e o trono, mas careceria da legitimidade tipicamente democrática, que decorre da persuasão.
[...]
O vetor resultante é um governo de crise crônica. Num cenário de estagnação da economia e perda do dinamismo do mercado de trabalho, combatendo surtos inflacionários, ameaçado por desequilíbrios nas contas públicas e externas, o segundo mandato seria assombrado pelos amplos desdobramentos políticos do escândalo de corrupção na Petrobras. Então, uma presidente que perdeu o respeito da opinião pública se converteria em refém das múltiplas, contraditórias exigências de uma coalizão de poder cada vez mais esgarçada.
Uma presidente fragilizada por todos os lados, envolta em escândalos de corrupção, cercada dos mais fisiológicos dos políticos, tendo de fechar as torneiras que garantem o apoio de todos os vendidos, enquanto a inflação corrói a renda de quem ainda estiver empregado, pois o desemprego irá sem dúvida aumentar. É esse o cenário que se avizinha, levando Demétrio a concluir que “conheceremos de fato a alma autoritária do PT”.
O grande problema de nosso país é que boa parte dos eleitores não lê coisas assim. Dos que leem, muitos não entendem. Dos que entendem, boa parte não liga, desde que tenha seu quinhão garantido no butim da coisa pública. Somando tudo isso, temos a metade do eleitorado. Do outro lado, conscientes do que está em jogo, desesperados com o enorme risco de colocar os avanços de duas décadas a perder, encontra-se o eleitorado que clama por mudança. Saberemos domingo quem terá vantagem numérica…
Rodrigo Constantino

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