terça-feira, 28 de outubro de 2014

Jeffrey Tucker- Por que os carros de hoje são todos iguais

Aquele carro antigo, que havia sido especialmente alugado para a ocasião, esperava pelos noivos para levá-los a uma festa logo após a cerimônia do casamento.  Eu estava entre aqueles convidados que se mostravam mais embevecidos pelo carro do que pela festa de casamento em si.  Absolutamente maravilhoso.
Era um Studebaker.  Até onde sei, era um conversível da linha Commander, de 1940.  Tive de ir pesquisar: esta empresa nasceu em 1852 e morreu em 1967, e produziu alguns dos carros mais visualmente fantásticos de sua época.  Ela até chegou a produzir um carro elétrico em 1902!  Mas os controles de preços adotados pelo governo americano durante a Segunda Guerra Mundial encolheram suas margens de lucro, o que gerou um processo de fusão em toda a indústria automotiva, que acabaria por matar a empresa. 
Mas, naquele sábado à tarde, o carro ainda estava fabuloso, após todos esses anos.  Estávamos em um estacionamento a céu aberto repleto de automóveis modelos novos.  Mas ninguém dava a mínima para eles.  Estávamos todos obcecados com este velho Studebaker.  Seu nome havia sido escolhido corretamente: aquele automóvel despertava atenção.  O formato fazia dele uma obra de arte.  O capô não era nada parecido com o que existe hoje.  O interior de couro vermelho era extremamente luxuoso.
Ficamos lá extasiados, em total admiração.  Divagamos um pouco sobre como seria o consumo de combustível.  Não deveria ser muito maior do que o dos gigantescos utilitários atuais.  Ainda assim, concordamos que pagar mais para dirigir algo tão legal valeria a pena.
Studebaker Custom Convertible OC.jpg
Studebaker Commander Convertible
No entanto — e eis todo o problema —, isso não é uma opção.  Nenhum fabricante está autorizado a fazer um carro igual a esse.  Façamos um pequeno retrospecto e pensemos um pouco.  Na década de 1930, os telefones eram horrorosos, pesados e nada práticos, e você era um grande sortudo se tivesse um.  Ninguém hoje abriria mão de um smartphone em troca de uma daquelas coisas antigas.  O mesmo é válido para computadores, televisões, fogões, fornos microondas, sapatos etc.  Ninguém quer retroceder no tempo. 
Já com os carros, a situação é distinta.  Nossa sensação de nostalgia só faz aumentar, em vez de diminuir.  Mas o problema é que nem sequer temos a opção de voltar ao passado.  Não mais teremos carros bonitos como os de antigamente.  O governo e suas dezenas de milhares de regulamentações específicas para o setor automotivo não permitem.    
No dia anterior ao casamento, estava eu em uma loja de conveniência quando vejo outro carro fabuloso, desta vez um pequeno modelo esportivo.  Mesmo eu que não ligo muito para carros fiquei extasiado. Normalmente, não me importo muito com o modelo de carro que dirijo.  Mas aquele carro em específico era sensacional demais para não despertar a minha admiração.
Perguntei ao proprietário onde ele havia comprado, que modelo era, quem era o fabricante etc.  Aquele carro havia desafiado a minha impressão de que todos os carros atuais são iguais.  Ele me disse que ele próprio o havia construído em sua garagem.  Ele comprou todo o kit de montagem na Factory Five Racing.
Perguntei: "Você hoje tem de montar seu próprio carro porque nenhum fabricante pode vender algo assim?"
"Correto!", disse ele.
Estas empresas que se especializaram em vender componentes automotivos avulsos são uma forma fantástica de você conseguir respirar em uma era em que o controle governamental sobre o mundo físico é total.  Elas são uma maneira legal de driblar as imposições estatais.  A lei ainda permite que colecionadores, proprietários de carros antigos e praticantes de hobby possam dirigir estes belos carros.  Mas ela não permite que os fabricantes atuais comercializem carros que se pareçam com estes.
Aquele antigo ditado diz que "Se você quer algo bem feito, faça você mesmo."  Há apenas um problema com este ditado: em uma economia desenvolvida, ele não deveria ser válido.  Deveríamos poder tirar vantagem da divisão do trabalho.  Assim como não temos de tecer nossas próprias roupas, não deveríamos ter de construir por conta própria nossos carros.  Mas foi justamente a este caminho que as regulações estatais nos levaram.
Você por acaso já parou para pensar por que todos os fabricantes constroem carros visualmente sensacionais — os quais elas chamam de "carros-conceito" —, mas por algum motivo tais carros nunca estão à venda?  Sempre fiquei intrigado em relação a isso.  Imaginava que era simplesmente porque os carros-conceito eram caros demais para serem fabricados.  Mas não é por isso.  A questão é que as regulamentações estatais não permitem que eles sejam comercializados.
As coisas não aconteceram todas de uma só vez.  As proibições foram graduais e ocorreram ao longo de quatro décadas, sempre em nome da segurança e do ambientalismo.  Tudo começou nos EUA, em 1966, com a criação daNational Highway Traffic Safety Administration [agência governamental que faz parte do Departamento de Transportes, cuja missão é "proteger vidas, impedir danos, e reduzir acidentes automotivos"].  Depois surgiuEnvironmental Protection Agency [agência governamental encarregada de "proteger a saúde humana e o ambiente"].  Inevitavelmente, dezenas de outras agências surgiram depois.  Todas queriam se apossar de uma fatia do automóvel.
A princípio, cada regulamentação criada parecia fazer algum sentido.  Afinal, quem não quer estar mais seguro?  Quem não quer consumir menos combustível?
Mas a realidade é que todos esses decretos são impostos sem a mais mínima consideração quanto à realidade dos custos e benefícios.  Mais ainda: eles são criados sem qualquer consideração em relação ao seu impacto sobre o design de um carro.  E, uma vez que as regulamentações são impostas, elas jamais são revogadas.  Elas são mais definitivas do que as normas sobre uma peça de software patenteada.
Agora o fim do jogo já chegou.  Por mais que tentem, os próprios fabricantes passam aperto para tentar diferenciar seus carros dos de seus concorrentes.  A homogeneização do automóvel já está banalizada.  Todos os carros atuais são parecidos.  Como já disse, nunca fui muito entusiasta de carros e, exatamente por isso, só comecei a notar esse fenômeno nos últimos 12 meses.  E, ainda assim, pensei que estava apenas imaginando coisas.  Porém, algumas pessoas brincando com o Photoshop descobriram que, se você apenas trocar a grade frontal dos carros, é possível fazer uma BMW ficar igual a uma Kia e um Hyundai ficar idêntico a um Honda.  É tudo um só carro.
Realmente, tem de ter uma explicação para isso.  Fui procurar e descobri um vídeo feito pela CNET que enumera cinco motivos para os carros de hoje serem iguais: decretos para que a frente do carro seja mais alta para proteger pedestres, decretos que limitam a altura do carro para economizar combustível e uma traseira grande que contrabalance a frente grande.  Essa combinação fez com que tanto o pára-brisa quanto todas as janelas dos carros se tornassem irritantemente pequenas, o que afeta a visibilidade e acaba tornando os carros menosseguros para serem dirigidos.  Adicionalmente, o peitoril das janelas ficou mais alto, o que dá a claustrofóbica sensação de se estar dentro de um tanque.  Em outras palavras, uma histeria em relação à segurança e ao ambiente destruiu toda a estética dos carros.


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