terça-feira, 16 de setembro de 2014

Yoani Sánchez-De gratuidades e escolas



O sinal do turno da manhã tocou e os meninos foram para a aula, seguidos por seus pais. O primeiro dia de aulas acaba com a alegria e alguns deixam umas lagriminhas caírem porque sentem saudades das suas casas. Isso aconteceu com a Carla que está iniciando o pré-escolar numa escola do Cerro. A menina teve sorte porque lhe coube uma professora que ensina a muitos anos no primário e domina bem o conteúdo que transmite. “Que sorte!”, pensaram os familiares da pequena imediatamente antes que outra mãe lhes advertisse: “porém cuidado com a professora que exige um pedaço da merenda que cada estudante traz de casa”.
Na tarde daquele 1 de setembro teve lugar a primeira reunião de pais. Depois das apresentações e das palavras de boas vindas, a professora enumerou tudo que fazia falta para comprar em aula. “Há que se coletar dinheiro para um ventilador”, disse sem ruborizar. Carla já havia sofrido com o calor da manhã, desse modo a mãe entregou os 3 CUC que lhe correspondia para que sua filha tivesse um pouco de frescor enquanto estudasse. “Também precisamos comprar uma escova e um esfregão para a limpeza, três lâmpadas de luz fria e um cesto de lixo”, enfatizou a auxiliar pedagógica.
A lista de pedidos e necessidades somou-se um desinfetante para o banheiro “porque não há quem suporte o cheiro”, assegurou a própria educadora. A cifra dos gastos começou a crescer e teve-se que juntar um cadeado porque “senão nos roubam as coisas quando não há ninguém na escola”. Para pintar o quadro negro um pai ofereceu um pouco de tinta verde e outro se comprometeu em consertar as dobradiças da porta que estava caída ao lado. “Recomendo-lhes que comprem a agenda dos meninos na rua, porque as que vieram neste ano são de um material de cebola que rasga ao se apagar”, acrescentou a mestra.
Ao terminar a reunião a família de Carla já contabilizava uns 250 pesos cubanos em gastos para apoiarem o ensino da menina, a metade do salário mensal do pai, que é engenheiro químico. Então a diretora da escola entrou na reunião e rebateu: “se alguém conhece um carpinteiro e quiser contratá-lo para que conserte a mesa do seu filho, pode fazê-lo”.
Tradução por Humberto Sisley

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