Eu escrevo e falo tanto que nem lembro quando falei ou escrevi que Barack Obama quis correr do Oriente Médio, mas o Oriente Médio teima em correr atrás do presidente americano. Obama agora está na correria para costurar a tal da estratégia para lidar com os desafios espinhosos da região, a destacar o urgente, envolvendo os terroristas ensandecidos do grupo Estado Islâmico.
Nada mais sintomático que o presidente tenha escolhido esta quarta-feira, véspera do décimo-terceiro aniversários dos atentados do 11 de setembro para falar a uma nação relutante sobre os planos. A nação ficou relutante depois dos custos e a da frustração com os lucros na sequência das guerras no Afeganistão e Iraque.
A relutância, a nebulosidade e a duplicidade estão em todas as partes. Certezas absolutas apenas entre os absolutistas islâmicos que decepam, crucificam e praticam genocídio, em particular no coração das trevas que é o Siraque (mistura de Síria e Iraque). Nesta terça-feira, Obama traz para a Casa Branca as lideranças republicanas e democratas no Congresso para discutir a tal da estratégia. Existe mais impulso dos republicanos para que alguma coisa seja feita, alguma coisa, alguma coisa.
E algo essencial nesta alguma coisa é trazer os aliados árabes dos EUA para esta campanha, para não ficar parecendo cruzada (não basta ter o apoio de aliados europeus e da Austrália). O termo aliado é relativo. Obama está tentando costurar uma coalizão de “frenemies”, mistura de “friends e enemies”. Em termos informais, até o Irã dos aiatolás faz parte deste bloco desconjuntado, pois o Estado Islâmico é um inimigo comum.
Lideranças árabes nutrem desprezo entre elas e tratam Obama com desconfiança. Aspecto essencial da estratégia de Obama é impedir que o Iraque se despedace de vez. A liderança xiita do país, que implora pelos ataques aéreos americanos contra o Estado Islâmico enquanto brada por sua soberania, precisa urgentemente acalmar a minoria sunita, que faz escolhas de Sofia entre terroristas sunitas e um governo controlado pelos xiitas (finalmente um novo governo foi aprovado na segunda-feira).
Países como Arábia Saudita, Turquia e Catar patrocinam facções diferentes em vários cenários da região e no geral concordam que a influência americanos na região é cada vez menor e, ao mesmo tempo, esperam tudo de Washington. Os sauditas estão especialmente furiosos com Obama. Acusam o governo americano pelo vacilo para investir contra a ditadura de Bashar Assad, apoiando grupos rebeldes contrários ao Estado Islâmico.
Hoje é esta escolha de Sofia entre Assad e Estado Islâmico, diante da fraqueza de rebeldes moderados para virar o jogo na guerra civil. E vamos ser sinceros, é uma escolha de Sofia ter como aliada a Arábia Saudita, berço do fundamentalismo islâmico e mamãe generosa de tantos grupos radicais badernando desde os anos 80 no arco que se estende do Afeganistão ao norte da África.
Nas tratativas, os “frenemies” querem mais engajamento americano, enquanto o governo Obama pede menos sem-vergonhice no patrocínio, em alguns casos oficial e em outro de gente rica do golfo Pérsico, de grupos extremistas. Obama antecipa que esta desconfortável aliança deve combinar ataques aéreos contra o Estado Islâmico no Iraque, envio de armas para os grupos que combatem os jihadistas mais ensandecidos (como os curdos) e impedir que os militantes vendam petróleo de campos ocupados na Síria para financiar suas operações, inclusive para o próprio regime Assad.
Talvez ocorram alguns ataques aéreos contra posições do Estado Islâmico na Síria, em uma decisão tortuosa, mas que parece necessária. O governo Obama se desdobra para desvincular lances neste sentido de uma aliança de conveniência com Assad, reiterando que a tal estratégia inclui ajuda militar para rebeldes mais moderados na guerra civil síria até agora negligenciados pelos americanos.
O fato é que Obama chega arrastado para a encrenca, não confia em aliados, é alvo de desconfiança e precisa convencer uma sociedade americana relutante a ter paciência, pois este combate contra o Estado Islâmico pode durar até três anos, sobrando para o próximo presidente. Falando nisso, entre os “frenemies” de Obama podemos incluir a presidenciável Hillary Clinton, hoje com um discurso mais falcão e uma conversa-lamúria sobre o que poderia ter sido feito de mais vigoroso no Oriente Médio pelo governo Obama, o governo que ela serviu como secretária de Estado.
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