quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Rombo previdenciário deve chegar a R$ 55 bilhões: o elefante na sala que todos ignoram

O rombo nas contas da Previdência Social neste ano será cerca de R$ 15 bilhões superior às estimativas oficiais, chegando próximo de R$ 55 bilhões, de acordo com fontes do próprio governo. Na avaliação de técnicos do governo, esse déficit adicional será um dos fatores que devem impedir o cumprimento da meta fiscal de 2014, equivalente a 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB).
A previsão oficial ainda é de um déficit R$ 40,1 bilhões na Previdência, projeção que consta na programação de receitas e despesas do Orçamento. Até agora, o governo não reviu a estimativa. Se tivesse feito isso, teria de promover um corte adicional nas despesas do Orçamento para cumprir a meta. “A projeção está mantida”, afirmou há duas semanas o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin.
Em que mundo essa gente do governo vive? Quando o ministro Garibaldi Alves Filho reconheceu que o rombo seria maior do que o número oficialmente previsto, houve reação por parte da equipe econômica e do Planalto. Mas ele estava certo: os R$ 40 bilhões previstos eram irrealistas, otimistas demais. O rombo ficará entre R$ 50 e R$ 60 bilhões!
Adicionando insulto à injúria, devemos lembrar que o Brasil ainda vive sob o tal “bônus demográfico”, ou seja, temos uma população muito jovem ainda, com uma pirâmide de fato, com base mais gorda do que o topo. A tendência é o Brasil envelhecer em breve, engordando o topo da pirâmide, o que trará consequências enormes para a Previdência Social.
Somos um espelho dos Estados Unidos nessa área: enquanto temos uns 12% de gasto previdenciário em relação ao PIB para apenas 6% de idosos do total da população, eles têm 6% de gasto com aposentadorias para 12% de idosos. Quanto gastaremos quando tivermos 12% de idosos sobre o total? A conta não fecha!
Mas como a bomba-relógio não estoura amanhã, os governantes empurram com a barriga o problema, fingem que ele não existe. Churchill definiu a diferença entre estadista e populista dizendo que aquele se preocupava com as próximas gerações, enquanto este só se preocupa com as próximas eleições. Estamos carentes de estadistas por aqui…
O modelo atual criou inúmeros privilégios, especialmente no setor público, mas o INSS também é um esquema de pirâmide insustentável, sem correlação alguma entre aposentadoria e o que foi efetivamente poupado por cada um. Mas quem fala em contas individuais de capitalização? Ninguém.
A saúde avança, graças às inovações capitalistas, e as pessoas morrem cada vez mais tarde, o que é ótimo. Mas a idade de aposentadoria não se altera. Resumo: o sujeito se aposenta com 60 anos e vive outros 30 anos sem trabalhar. Quem paga?
Como sua poupança não foi investida de fato em ativos rentáveis para lhe garantir um dividendo no futuro, são os novos entrantes na pirâmide que pagam, i.e., os jovens inexperiente e menos produtivos. O fardo fica pesado. Somando a isso todas as “conquistas trabalhistas”, alguém fica espantado com a dificuldade de encontrar bons empregos por parte dos mais jovens?
Há uma guerra entre gerações sendo fomentada no Brasil. O modelo de Previdência Social está no epicentro do problema. Até quando vamos fechar os olhos para o enorme elefante na sala?
Rodrigo Constantino

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.