terça-feira, 12 de agosto de 2014

Caio Blinder- No labirinto do Siraque

Na melhor das circunstâncias, para amadores e profissionais, é difícil entender e acertar o que fazer no Siraque, com sua confluência de crises, mosaico étnico e religioso, jihadistas ensandecidos, Bashar Assad e seus aprendizes como o primeiro-ministro iraquiano Nouri al-Maliki. Falando em aprendiz, hora de trazer Barack Obama para o labirinto.
O presidente americano cometeu vários erros de julgamento no Siraque. Na Síria, o erro se tornou histórico, para os livros, quando Obama fixou a tal da linha vermelha que Assad não poderia cruzar com o uso de armas químicas. No Iraque, assim como George W. Bush (o homem da “missão cumprida”), Obama insistiu no apoio ao primeiro-ministro Maliki como o melhor band-aid nas feridas iraquianas para fingir que a situação estava se cicatrizando e que ele era a pessoa ideal para tocar o país depois da invasão americana. Na encrenca mais recente que está conduzindo o Iraque ao esfacelamento, o presidente americano confiou na sua habilidade para persuadir o dirigente xiita a costurar um governo mais inclusivo.
O Iraque agora está simplesmente atolado em uma crise sobre quem deve exercer o poder, em um confronto político e constitucional (como não fosse suficiente o banho de sangue), envolvendo o presidente curdo e o primeiro-ministro xiita. Não vou entrar nos detalhes sobre a salada política interna. Quem quiser as minúcias, leia o blog do meu colega e amigo Guga Chacra, que conhece e se enfronha nas tramas bizantinas do Oriente Médio como poucos no Brasil. No entanto, quem quiser um atalho, confie em mim quando digo que aquilo é uma meleca.
Washington também subestimou a rapidez do avanço dos jihadistas ensandecidos do grupo Estado Islâmico, que são profissionais do genocídio (xiitas, cristãos e yazidis). Os americanos falharam para antecipar a capacidade dos jihadistas para conquistar um vasto território no norte do Iraque em parte por terem superestimado a capacidade dos curdos, do Exército iraquiano e de outras milícias locais para detê-los. Agora, é um esforço relutante e desesperado, ao mesmo tempo, para armar os curdos e suavizar o genocídio.
Parte deste esforço-remendo é bombardear posições do Estado islâmico no norte do Iraque. E na Síria? A bandeira negra da barbárie do Estado Islâmico foi desfraldada nos edifícios administrativos de Raqqa, no norte da Síria. Recrutas procedentes do Oriente Médio e Europa para integrar a Internacional Jihadista, continuando chegando na cidade, através da Turquia, até de táxi. O Estado Islâmico se mostra tecnicamente competente para travar as típicas ações terroristas de uma Al-Qaeda, assim como guerra convencional (e de propaganda), tanto na Síria, como no Iraque. Vi um vídeo em que um terrorista bravateava para os americanos (os “covardes”) lutarem corpo a corpo e não despachando os drones, os aviões não tripulados.
No Wall Street Journal, diplomatas europeus dizem que o Estado Islâmico está confiante que os americanos não irão atacá-los na Síria para não dar uma forcinha a Bashar Assad. Rebeldes sírios de outros grupos (alguns ensandecidos e outros mais moderados) aderiram ao Estado Islâmico diante da recusa ocidental para armar rebeldes e do sucesso do Estado Islâmico. Em tempos mais remotos, há uns dois anos, quem saberia armar os rebeldes mais toleráveis teria feito uma grande diferença. Algum armamento começou a fluir nos últimos meses para estas facções rebeldes que combatem tanto Assad, como o Estado Islâmico. No entanto, como no caso limitado do envolvimento americano no Iraque, o resultado não é uma virada do jogo (uma queda de Maliki talvez seja uma mudança decisiva).
Tanto em uma ofensiva na Síria em junho, como agora no Iraque, os militantes do Estado Islâmico conseguiram realizar avanços com armamento americano tomado (ou comprado graças à corrupção) do Exército iraquiano. O Siraque é realmente um labirinto para se perder e morrer.
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