sexta-feira, 4 de julho de 2014

Yoani Sánchez- O gesto de Carlitos

O gesto de Carlitos

by H. Sisley
El gesto de la desidia es caracterísitico entre los jóvenes. (14ymedio)
YOANI SÁNCHEZ, La Habana | 01/07/2014
Lembro-me dele assim, recostado sobre a mesa com a cabeça inclinada e o olhar ausente. Carlitos tinha apenas vinte anos e toda a sua gesticulação tinha a falta de vontade de quem tinha vivido muito. Aquele jovem acabou emigrando – como tantos outros – e suponho que em sua nova vida haja pouco tempo para deixar as horas passarem reclinado e aborrecido. Contudo, continuo vendo por todos os lados essa imagem física da apatia e da falta de projetos pessoais. É como se o corpo falasse e, com sua postura, dissesse o que tantas bocas calam.
Quando algum dia se fizer o glossário da linguagem corporal cubana, haver-se-á que incluir esta pose de “queda nos abismos do nada”. Esta aparência de derrotados de antemão que muitos jovens como Carlitos e não tão jovens deste país transmitem. É o fastidio ao mover as mãos, a lentidão das pálpebras, a permanente sonolência e certo relaxamento nos lábios que apenas articulam palavras com negligência, quando não são expressas apenas como monossílabos. O relógio que avança e não importa. A vida que passa e tampouco importa muito, o país que nos escorre por entre os dedos e importa a menos gente ainda.
Enquanto os próceres se alçam altivos em seus pedestais de mármore, a realidade nos encontra arqueados, cansados e escorados no primeiro móvel que encontramos pela frente. O grito surdo do desinteresse? Não sei, porém por todos os lados existem estas poses que transparecem falta de sonhos pessoais e nacionais.
Tradução por Humberto Sisley

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