domingo, 6 de julho de 2014

Comentário de Paulo Bento no blog do Rodrigo sobre ser a Copa um grande sucesso como alardeiam alguns ícones televisivos

  1. Paulo Bento
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    06/07/2014 às 10:21
    É preciso parar com esta história de maior média de gols. Com 2,65 gols por partida até aqui, a Copa no Brasil é a 14ª neste quesito entre as 20 Copas já disputadas. Ou seja, a média é medíocre.
    Como avaliar a Copa organizada pelo Brasil? Certamente não será pelo desempenho nos campos da seleção local, e muito menos pela qualidade dos jogos (que é baixa) e número de gols marcados (que é medíocre). Estes aspectos esportivos nada têm a ver com a organização do evento, pois dependem da qualidade do trabalho dos atletas, comissões técnicas e os dirigentes das federações dos países envolvidos. A avaliação de como o Brasil se saiu na organização deste Mundial só pode ser econômico e geopolítico.
    Economicamente o fiasco é claro. Estádios demais (a FIFA recomendou apenas oito, o PT queria dezesseis e acabaram fechando em doze), vários deles já nascem como elefantes brancos (Cuiabá, Manaus, Natal, Fortaleza, Recife e, potencialmente, Salvador), estouro de orçamento e superfaturamento foram a norma, e, ao contrário do prometido, esbanjou-se dinheiro público. As obras de mobilidade nada acrescentaram: as necessárias deveriam ser feitas independentemente da Copa, as voltadas para o acesso aos estádios representam desvio de recurso que deveriam ser destinados às reais prioridades e muita coisa nem saiu do papel. Só isso já define o fracasso econômico, mas é preciso também ressaltar o impacto nulo que a Copa teve na economia do país. Vender mais TVs, cerveja e artigos remetendo as cores nacionais aconteceria independentemente do local de disputa do Mundial, e os gastos dos turistas é facilmente escoados com a perda de produtividade dos feriados forçados, a não vinda de estrangeiros a negócio neste período e a saída de recursos com a massiva compra de ingressos aos jogos pelos brasileiros. O Brasil perdeu, e muito, economicamente organizando a Copa.
    Sediar uma Copa é a oportunidade de projetar uma imagem do país. Mas qual a imagem que gostaríamos de projetar? Como gostaríamos de ser vistos e posicionarmo-nos no tabuleiro geopolítico? Não sabemos. Ficou claro que nada foi planejado e a oportunidade foi totalmente desperdiçada. Se houve alguma mudança na forma como o Brasil é percebido mundo a fora, esta foi para pior. Os problemas no aspecto econômico mencionados acima, e fomentados internamente pela parcela consciente da mídia e da população, ganharam notoriedade internacional. Os velhos problemas de violência, exploração sexual e carência dos serviços públicos também foram recorrentes na mídia internacional. Tudo reforçando a imagem de uma nação pouco civilizada, onde predominam os baixos instintos materiais e passionais em detrimento dos valores morais e intelectuais. A cerimônia de abertura, que mais parecia uma festa junina escolar, em nada ajudou. Diante deste cenário o atraso na entrega dos estádios, as filas nas lanchonetes e banheiros, o mau estado de alguns gramados, a inundação na central de mídia em Natal, a invasão no Maracanã, queda de viaduto e outros problemas são detalhes negativos insignificantes.
    Não há margem para dúvidas, a organização desta Copa foi um retumbante fracasso para o país.

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