sábado, 12 de julho de 2014

Caio Blinder-Foguetes do Hamas


Funeral de Mohammed Mnassrah, 3 anos, na Faixa de Gaza
Funeral de Mohammed Mnassrah, 3 anos, na Faixa de Gaza
Existem assuntos bem mais penosos do que um 7 a 1 no futebol. Para mim, por exemplo, a crise entre Israel e palestinos. Evito ser sugado para o assunto com suas discussões circulares, o familiar jogo de culpa e as conflitantes reivindicações históricas. No entanto, aqui na coluna vigora a Doutrina Michael Corleone (“quando eu pensei que estava fora, eles me puxam para dentro”). Israel não tem exatamente uma estratégia. Vai empurrando com a barriga ou, na metáfora em inglês mais apropriada para tempos de Copa, “vai chutando a latinha”. O governo Netanyahu não tem um plano de paz. Quando acosssado pelos americanos, investe um pouco mais no chamado “processso” diplomático, sem interromper a expansão de assentamentos na Cisjordânia. Com sua enrolação, Netanyahu um dia vai chutado do poder, como uma latinha. Do lado palestino, é a mistura de mazela, martírio e niilismo.
Não existe solução à vista. Existem estes espasmos de violência em um cenário no qual, em alguns momentos, parece que o insuportável se torna tolerável (ou vice -versa). O ciclo em curso foi deflagrado pelos assassinatos de três adolescentes judeus e de um palestino. E o ciclo desembocou no jogo de foguetes disparados pelo Hamas e outros grupos radicais islâmicos (o mais moderado Fatah também marca presença) de Gaza contra Israel e as retaliações israelenses contra o território palestino. Não podem faltar as “reuniões de emergência” do Conselho de Segurança da ONU, os pedidos para que todos “contenham o seu entusiasmo” e os esforços frenéticos por um cessar-fogo. O suspense é se haverá uma nova operação terrestre de Israel em Gaza, além dos bombardeios aéreos e navais.
Desculpem o tom blasé. Claro que a situação é trágica, como também é inevitável o debate macabro que no final das contas sempre morrem mais palestinos do que israelenses. De novo, porém, é preciso lembrar que Israel não está tentando matar civis. Faz o que pode para poupá-los, por razões estratégicas, militares, morais e de relações públicas. No site Slate, William Saletan tem um texto convincente , argumentando que “pelos padrões de guerra, os esforços de Israel para poupar civis têm sido exemplares”. Os danos humanos são terríveis (mortes de mulheres e crianças). Não vamos relativizar.
Até sexta-feira de manhã, as informações eram de que mulheres e crianças perfaziam metade das 90 mortes em Gaza, embora os alvos sejam militares, além de profissonais do radicalismo. Vamos lembrar que algumas das imagens da devastação são falsas, surrupiadas de outras guerras. E existe o ponto óbvio: o Hamas e outros grupos palestinos usam civis como escudos humanos ou eles são voluntários para o martírio. Neste último caso, trata-se de suicídio ou de homicídio? E existem os acidentes. Israel anunciou que vai investigar mortes relacionadas com a horrível expressão danos colaterais, como oito integrantes de uma família na cidade de Khan Younis, todos não combatentes, que morreram quando retornavam prematuramente à sua casa após o alerta sobre um ataque.
Mísseis israelenses são disparados contra áreas densamente habitadas (é ali que literalmente mora o perigo, ou seja, são os locais de onde o Hamas e outros grupos lançam foguetes). Mesmo em Israel existem controvérsias sobre as táticas. Na quinta-feira, o grupo de defesa dos direitos humanos B’ Tselem condenou a política de alvejar casas de militantes suspeitos como violação de leis humanitárias internacionais. E existe a condenação mais ampla de que Israel recorre à doutrina da punição coletiva.
Já o Hamas não tem pruridos e está se lixando para leis internacionais, na sua guerra assimétrica, na sua guerra amoral. Assume que “todos os israelenses se tornaram alvos legítimos” (e como diferenciar judeus de não judeus quando um foguete é disparado contra cidades com alta percentagem de árabe-israelenses?). Os foguetes hoje são mais precisos e, por alguns cálculos, 2/3 da população de Israel está ao alcance do foguetório. O debate político, legal e moral é complexo e tortuoso, mas um ponto é claro: Israel quer minimizar as mortes de civis enquanto o Hamas quer maximizá-las.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.