quinta-feira, 10 de julho de 2014

Caio Blinder- Hamas, o Foguete Futebol Clube

Eu endossei na segunda-feira um texto de David Horovitz, editor fundador do site The Times of Israel sobre a complacência israelense (ilusão da superioridade moral). Hora de trazê-lo de volta para a coluna: Horovitz dispara sem complacência contra o Hamas, o Foguete Futebol Clube (tem um arsenal de 10 mil).
É preciso, da perspectiva de Israel, visualizar o mapa regional: ao norte, é a anarquia na Síria, mais de 150 mil mortos na guerra civil, indiferença global e Israel cuidando de pacientes sírios nos seus hospitais. A leste, extremistas palestinos que sequestram e assassinam adolescentes judeus. Mais para o leste, é o coração das trevas, com os jihadistas do autointitulado Estado Islâmico. Em termos relativos, estes ensandecidos fazem outros grupos terroristas islâmicos parecerem razoáveis. Além do avanço no Iraque, existe a ameaça dos jihadistas contra a Jordânia, algo muito inquietante para Israel. Este avanço dos jihadistas sunitas preocupa o regime xiita do Irã, mas nem pensar em uma aliança de conveniência dos israelenses com os iranianos. E ao sul, em Gaza, Israel vive uma nova rodada de seu conflito com o Hamas, cujos foguetes, aliás, são made in Irã.
E qual é a do Hamas? Horovitz lembra que, tanto antes como depois da retirada de Israel de Gaza, em 2005, os terroristas neste enclave costeiro têm disparado foguetes de forma indiscriminada contra Israel. O alvo são os israelenses (entre eles, não judeus), fardados ou não. Mais israelenses não morrem devido ao bloqueio de Gaza, que prejudica a imagem internacional de Israel, e também ao aperfeiçoamento do que já é o mais sofisticado sistema no mundo de interceptação de foguetes e a todo o zelo para proteger a população civil.
Já em Gaza, floresce o martírio. Israel faz o que pode para impedir danos à população civil, escudo humano do Hamas e de grupos ainda mais engajados no terror. E de pensar que Gaza poderia ter prosperidade com a saída dos colonos judeus, tornar-se uma ilha de democracia, um pólo de atração para investidores com suas praias maravilhosas. Gaza estável poderia levar Israel a confiar mais nos palestinos e cogitar de uma retirada unilateral da Cisjordânia. Aqui ouso discordar de Horovitz. Será penoso, em qualquer cenário, desfazer os enclaves de colonos judeus, que ameaçam, em alguns casos,  a insurgência contra o próprio estado de Israel.
Em Gaza, foi a desolação com a partida dos colonos judeus. Até as estufas de plantas foram vandalizadas. E o vandalismo dos foguetes nunca cessou. Em 2007, o Hamas, um movimento empenhado na destruição de Israel, assumiu o controle formal em Gaza, enxotando a Autoridade Palestina do mais moderado presidente Mahmoud Abbas. O day after foi horrível, assim como oafter do after.
Muito se fala que os atores mais ou menos estabelecidos no cenário (aqui de fora ficam os grupos “à esquerda” do Hamas) queriam impedir uma escalada nesta nova fase da crise, que explodiu com os assassinatos de três adolescentes judeus e de um palestino. A crise, sem dúvida, enfraquece Mahmoud Abbas. Já o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, acossado pela extrema direita na coalizão de governo, faz o que pode para manter sua lenga-lenga de nada de agressividade para buscar a paz ou uma guerra em larga escala. Como lembra Horovitz, é fácil começar uma guerra, muito mais difícil é saber como irá terminar.
O Hamas também está acuado. Perdeu o apoio no Egito com o golpe militar que derrubou o governo da Irmandade Muçulmana há um ano. Como de hábito, sente-se mais em casa como “resistência” do que como governo.  E aqui, Horovitz arremata: por que resistir contra israelenses que não estão mais em Gaza? Na explicação de Horovitz, os foguetes são a razão de ser do Hamas. O grupo vive da hostilidade contra Israel.

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