domingo, 15 de junho de 2014

Caio Blinder- Pátrias democráticas sem chuteiras

Quem aplaude e quem vaia esta coluna sabe que o Instituto Blinder & Blainder é fã da sacadora Anne Applebaum. Ela é craque. Em recente texto, Anne Applebaum lembra que em quase todas as partes, os vastos gastos exigidos para sediar grandes eventos esportivos- como Copa do Mundo e Jogos Olímpicos – fazem com que os custos façam gol nos benefícios. A única diferença no Brasil foi a antecipação do lamento.
E com o muro das lamentações erguido e tantos protestos, muitos destrutivos, ao redor do mundo, governos observaram a reação dos brasileiros. E qual é o resultado do jogo? Nos últimos meses, cidades na Alemanha, Suíça, Suécia e Polônia desistiram de suas licitações olímpicas. Na cidade polonesa de Cracóvia, 70% votaram contra a ideia de grandeza em um referendo, apesar do aparente sucesso da futebolística Eurocopa, que a Polônia sediou conjuntamente com a Ucrânia em 2012. Aliás, um esporte de muito sucesso na Ucrânia no momento é tiro ao alvo ou não.
É provável que os restantes concorrentes para os Jogos Olímpicos de Inverno de 2022 sejam Pequim e Almaty (cidade do Casaquistão, a terra do nosso querido Borat). São países em que as opiniões dos votantes não são levadas em conta e protestos são tratados com elegância nada olímpica. E países com perfis semelhantes, Rússia (2018) e Catar (2022) irão sediar as próximas copas. No Brasil, há corrupção deslavada, escandalosos atrasos em obras esportivas e acidentes de trabalho. No entanto, Catar dá de goleada e nos Jogos Olímpicos de Inverno em Sochi, na Rússia, em fevereiro, sabemos quem levou muito ouro.
Não é fácil para democracias se safarem deste tipo de abuso. Talvez, nossa craque Anne Appleabaum esteja antecipando o final do jogo eleitoral no caso de Dilma Rousseff, mas o seu ponto essencial é que países democráticos serão cada vez mais reticentes para bancar megaeventos esportivos. Depois do Brasil, não haverá copa por oito anos em país democrático. Anne Applebaum pergunta: será a última em democracia?
Eu chuto que não, mas o jogo será menos extravagante.

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