Chega a ser divertido o chororô de comentaristas políticos identificados com o PT diante dos resultados da eleição municipal. Eles são muitos, e não há espaço para mencionar todos: tratarei de alguns mais conhecidos.
O notório Jânio de Freitas dá um salto triplo mortal carpado para afirmar que João Doria (PSDB), embora eleito em primeiro turno, na verdade alcançou apenas 32% dos votos – menos do que um terço do eleitorado. Como? Expurgou os votos nulos e brancos e as abstenções. Na contabilidade criativa de Freitas, portanto, Doria foi rejeitado por 68% dos eleitores paulistanos.
Pelo critério de Jânio – ninguém escapa ileso de certos nomes – o Brasil simplesmente não teria governantes. Lula e Dilma, para ficar só nesses dois, não teriam sido eleitos. Jânio poderia ser mais exato – quase disse mais honesto – se dissesse, por exemplo, que as abstenções, na esmagadora maioria dos casos, são de eleitores que mudaram de cidade, morreram ou completaram 70 anos. E há outro tanto deles que não comparecem às urnas porque têm para si – com razão – que votar não é um dever, mas um direito, que se exerce ou não: recado claro em favor do voto facultativo.
Ou seja, os votos nulos e brancos, e parte das abstenções, podem perfeitamente ser a expressão de uma vontade política legítima, tanto quanto votar na chapa inteira de um partido.
Além disso, o cômputo de votos brancos e nulos é da lei, e vale para todos. Mas JF, na sua maneira particular de investigar, parece se lembrar disso somente quando o vencedor não é do seu agrado.
Já Bernardo de Mello Franco, um colunista menos influente, porém aplicado e resoluto, sustentou que os perdedores da eleição foram Lula, Temer, Paes e Marina. Temer? Se há alguém feliz com o resultado da eleição este é Michel Temer. Quando parecia que o “fora Temer” ia pegar para valer, a derrota humilhante do PT botou água na fervura. O “fora Temer” é uma resposta (e um plágio vulgar) ao “fora Dilma” - esta, uma campanha muito mais ruidosa e bem sucedida.
O ícone de esquerda, Vladimir Safatle, que leio sempre para saber de que ideias devo me afastar, abriu um artigo falando no “esgotamento do PT e do PSDB”. Como? Esgotamento do PSDB? Você pode detestar os tucanos à vontade, mas é preciso torturar os fatos para negar que o PSDB foi um dos grandes vitoriosos da eleição de outubro. Bastaria contar a vitória em primeiro turno na maior cidade do país.
O jornalista Antônio Prata, apocalíptico, decretou o fim de São Paulo, com a eleição de Doria: “Era uma vez uma cidade”...
Todos são comentaristas da Folha de São Paulo. E ele mesmo, o jornalão, não deixou barato. Em editorial, lamentou que não tenha havido segundo turno na eleição paulistana: seria uma oportunidade para a cidade discutir melhor os seus problemas e o seu futuro. Mas essa é a velha e boa Folha. Com alguma frequência o jornal se toma de uma posição altaneira e olha à sua volta com ar superior. No caso, a falha foi do eleitor paulistano, que não soube entender o que seria bom para si. E o que é bom para o povo de São Paulo? Bem, isso só a Folha sabe.
titoguarniere@terra.com.br
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