Atacar um templo é assaltar o endereço de uma religião, a sua identidade. Como a mesquita no caso dos muçulmanos, a sinagoga é o coração de qualquer comunidade judaica. Assim, o atentado terrorista de terça-feira em ums sinagoga de Jerusalém, no qual morreram cinco pessoas, entre elas quatro rabinos, é um atentado contra o judaísmo. Mais do que incitamento e barbárie contra Israel, existe incitamento e barbárie contra judeus.
Este é o cenário de uma horrorosa espiral de violência no crônico conflito entre Israel e palestinos e, sendo mais preciso, entre judeus e muçulmanos. Um conflito nacionalista e imobiliário tem cada vez mais uma explosiva vertente religiosa. O pano de fundo é a controvérsia sobre o acesso a lugares santos em Jerusalém. Fervor é inevitável em religião e extrapola quando há mentiras e manipulação política.
Parentes dos dois primos palestinos que realizaram o bárbaro ataque à sinagoga disseram que ambos acreditavam que judeus terão permissão para rezar e não apenas visitar o lado de fora do complexo onde está a mesquita Al-Aqsa, o terceiro lugar mais sagrado para os muçulmanos, e que os judeus chamam de Montanha do Templo. E as mentiras pipocam mesmo com as repetidas garantias do governo de Israel de que não haverá mudanças na política, apesar da pressão de extremistas judeus.
Há gente terrível e intolerante em qualquer país, em qualquer religião, em qualquer esquina. No entanto, vamos direto ao ponto: no dia em que terroristas palestinos decidem alvejar e massacrar judeus durante a reza em uma sinagoga fica patente a noção de que os judeus não têm direito a uma conexão com seu lugar mais sagrado, a Montanha do Templo, e por extensão a Jerusalém e a Israel.
Existem muitos fatores para explicar a nova espiral de violência. Vamos destacar dois: 1) não existe um horizonte diplomático no conflito israelo/palestino e 2): o Hamas e grupelhos similares. O Hamas, que controla Gaza, semeia ventos (foguetes e incitamento ao terror) e está ansioso para colher tempestades. Para o Hamas, quanto mais represália israelense, melhor. Quando mais martírio, melhor.
Outros atores palestinos e também israelenses têm culpa no cartório, mas a maior culpabilidade é do Hamas, E aqui está o paradoxo. O Hamas vai continuar a encorajar ataques terroristas enquanto Israel evitar outra grande reação. E Israel, apesar de carecer de um genuíno ímpeto diplomático, vai evitar ao máximo um confronto com o Hamas.
Políticos têm dupla linguagem. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu faz média com a extrema-direita israelense e pede calma. O líder moderado palestino Mahamoud Abbas fala em “contaminação” judaica nos lugares santos de Jerusalém e pede calma. Nada que se compare ao Hamas, que não pede calma. O grupo endossa o terror no atacado e celebra a morte de civis mortos em atentados. Jeffrey Goldberg, guru desta coluna, diz que o Hamas deve ser visto pelo o que é: um grupo com genuínas intenções genocidas.
O Hamas qualificou o massacre de judeus que rezavam em uma sinagoga como uma “reação natural e heróica”. Há 20 anos, um judeu fanático, Baruch Goldstein, assassinou 29 fiéis palestinos que rezavam em Hebron. Na ocasião, o primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin, assassinado no ano seguinte por um judeu fanático, disse sobre Goldstein: “Você não é parte da comunidade de Israel. Você é uma erva daninha”. O Hamas cultiva as ervas daninhas. O endosso da morte de judeus rezando na sua cidade santa confirma que seu objetivo é a erradicação de Israel e dos judeus.
Como arremata Jeffrey Goldberg, a raiz do conflito continua sendo a indisposição de muitos muçulmanos palestinos para aceitarem a ideia de que os judeus têm direitos na terra dos seus ancestrais. E no caso do Hamas e de grupos similares, que os judeus têm o direito de viver.
***
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.